Há precisamente 75 anos, a 1 de Abril de 1944, em plena luz do dia, a Força Aérea dos Estados Unidos bombardeava Schaffhausen, na Suíça. Foi o mais grave incidente envolvendo este país neutral e os Aliados durante a II Guerra Mundial.
Porquê Schaffahausen? Os americanos disseram que tinha sido obviamente por engano e que a localidade estava muito próxima da fronteira com a Alemanha, onde estaria o alvo da missão dos 50 bombardeiros envolvidos. Mas muitos observadores pensam que o bombardeamento não aconteceu por engano. Antes foi cuidadosamente preparado. E que o alvo foi a fábrica de relógios da International Watch Company – IWC. Isto porque a IWC, antes e ao longo do conflito, forneceu calibres de relógios tanto para os Aliados como para as forças do Eixo. Esses calibres serviam de temporizadores para as bombas lançadas pelos aviões (calculava-se o tempo de queda do engenho e fazia-se com ele fosse accionado muito próximo do solo). Tanto a cidade como a fábrica foram seriamente atingidas e morreram 50 pessoas.
No Museu da IWC existe um dispositivo, para bomba aérea, com temporizador feito de calibre de relógio, neste caso da RAF - Força Aérea Britânica (Arquivo Fernando Correia de Oliveira)
Estivemos recentemente, e mais uma vez, em Schaffhausen, desta vez para conhecer o novo centro de produção da IWC. Em apenas 21 meses, o novo Manufakturzentrum da IWC emergiu nos arredores de Schaffhausen.
Christoph Grainger-Herr
"O nosso fundador Florentine Ariosto Jones, em 1868, combinou a tradicional técnica secular da relojoaria com métodos avançados de produção. Desde então, temos desenvolvido sistematicamente a metodologia de engenharia estabelecida por ele e, agora, estamos a combinar técnica artesanal e alta tecnologia também no nosso novo Manufakturzentrum. Contudo, o edifício não oferece apenas óptimas condições de produção e excelentes condições de trabalho para os nossos colaboradores. Ele também materializa o espírito da marca IWC e permite que visitantes de todo o mundo vivenciem de perto o fabrico dos nossos movimentos de manufactura e caixas", afirma Christoph Grainger-Herr, CEO da IWC Schaffhausen.
No Manufakturzentrum, a IWC reúne a produção de peças de movimento, movimentos de manufactura e caixas num só lugar. Um marco na história da empresa.
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"O novo edifício deu-nos a oportunidade de organizar os nossos processos de produção de maneira ideal para uma excelente operação e uma qualidade perfeita. Agora, a título de exemplo, todo o valor agregado à matéria-prima, desde a peça de movimento individual até ao produto final, concentra-se num único andar numa uma sequência lógica. Sonhei com isso desde que comecei na IWC em 2007", afirma Andreas Voll, COO da IWC Schaffhausen.
Quem passa pela imponente área de entrada de nove metros de altura, entra na produção de peças de movimento. Cerca de 1.500 peças são produzidas aqui, incluindo componentes para os movimentos automáticos das famílias de calibre 52 e 82, os movimentos de corda manual da família de calibre 59 e os movimentos dos cronógrafos da família de calibre 69. São fabricados componentes complexos, como platinas, pontes ou massas oscilantes, mas também peças pequenas, como embraiagens e molas. Algumas peças são tão pequenas que mal podem ser vistas a olho nu. As tarefas do departamento incluem também o fabrico de componentes para complicações, como o calendário perpétuo, o calendário anual ou o turbilhão.
Os relógios mecânicos são mecanismos sofisticados nos quais várias centenas de peças individuais executam o seu trabalho sem parar. As exigências de precisão são, portanto, extremamente altas. "Uma platina para o calibre 52, por exemplo, deve ter cerca de 400 características geométricas após o processo de fresagem e ser produzida com tolerâncias mínimas na faixa de alguns milésimos de milímetro", salienta Voll. É por isso que a maioria das etapas de processamento na produção de peças de movimento é automatizada. Somente centros de torneamento e fresamento controlados por computador de última geração são capazes de produzir essas peças com a qualidade exigida.
Na galvanoplastia, as peças de movimento recebem as propriedades de superfície desejadas. "O foco está na protecção contra a corrosão e na estética. Uma camada protectora de níquel e ródio, por exemplo, impede que peças de latão enferrujem e desenvolvam pátina. Ao mesmo tempo, confere aos componentes a sua coloração branco-prateada", diz Voll. O processo de fabrico de peças de movimento que possuem gravação é de grande complexidade. Desta forma, a ponte de tambor, a título de exemplo, é completamente banhada a ouro numa primeira etapa e, depois, a gravação é coberta com uma camada de verniz. Após a aplicação da decoração Côtes de Genève, as peças são revestidas com ródio em banho galvânico e o verniz remanescente é removido novamente. A gravação então resplandece em ouro reluzente.
Para a montagem dos movimentos, foi desenvolvido um conceito de linha que aperfeiçoou a ideia visionária de F.A. Jones. Ao dividir o processo de montagem em várias fases, um especialista com know-how específico pode ser responsável para cada passo de trabalho. "Organizar a montagem das nossas várias famílias de calibre em linhas dedicadas permite-nos garantir um nível máximo de qualidade", diz Voll, descrevendo o principal benefício. É utilizada também uma máquina lubrificadora revolucionária, desenvolvida pelos próprios colaboradores, que permite lubrificar, com muita precisão, dezenas de pontos dos mecanismos.
Mesmo pequenas quantidades de poeira ou sujidade podem afetar a função de um movimento. A montagem, portanto, é realizada num ambiente de sala limpa, com condições semelhantes às da produção de chips de computador. 50.000 m3 de ar circulam por hora. Além disso, uma sobrepressão impede a entrada de partículas de poeira.
O fabrico de caixas está localizado no piso inferior do Manufakturzentrum. Aqui, são fabricadas caixas de relógio de aço inoxidável, titânio, platina, ouro rosa, ouro branco e bronze. A última inovação em material da Schaffhausen é o Ceratanium®: "Este novo material revolucionário é tão resistente e leve como o titânio e tão rígido e resistente a riscos quanto a cerâmica", explica Voll.
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Ironicamente, o ano de 2019 é especialmente dedicado pela IWC à sua linha de relógios para piloto de avião.
O Pilot’s Watch Chronograph Top Gun é um cronógrafo automático. Tem caixa de 44,5 mm, de cerâmica e caixa interior de ferro macio para protecção contra campos magnéticos.
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O Pilot's Watch Perpetual Calendar Chronograph Le Petit Prince é um calendário perpétuo com fases de lua e cronógrafo com flyback. Tem calibre automático, com rotor de ouro, e caixa de 43 mm, de ouro. É limitado a 250 exemplares.
O Big Pilot´s Watch Perpetual Calendar Spitfire é um calendário perpétuo com fases de lua para ambos os hemisférios. Tem calibre automático e indicador de reserva de corda. Caixa de 46,2 mm, de bronze. Fundo de titânio. É limitado a 250 exemplares.
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