domingo, 30 de dezembro de 2018

Meditações - fugacidade

“O que é o tempo?”, perguntou Jorge Luís Borges durante uma palestra pública em Buenos Aires. “Não sei se, mesmo depois de 20 ou 30 séculos de meditação, já avançámos muito na questão do tempo. Eu diria que sempre sentimos esta antiga perplexidade, esta que Heráclito sentiu, mortalmente, naquele exemplo a que eu volto sempre: ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Porque é que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio? Em primeiro lugar, porque as águas do rio fluem. Em segundo lugar - e isto é algo que nos toca metafisicamente, que nos dá uma espécie de horror sagrado -, porque nós mesmos somos também um rio, nós também somos flutuantes. O problema do tempo é este. É o problema da fugacidade: o tempo passa.”

Pouco depois, nesta palestra, Borges retomou o tema da transmigração ou reencarnação. “Talvez sejamos ao mesmo tempo, como querem os panteístas, todos os minerais, todas as plantas, todos os animais, todos os homens. Mas felizmente não o sabemos. Felizmente acreditamos na existência de indivíduos. Porque senão estaríamos esmagados, aniquilados por esta plenitude.”

Para Borges, o tempo é a imagem móvel da eternidade. “O tempo é sucessivo, porque, tendo saído do eterno, quer voltar ao eterno. Quer dizer, a ideia de futuro corresponde ao nosso desejo de voltar ao princípio. Deus criou o mundo. E todo o mundo, todo o universo das criaturas, quer voltar a este manancial eterno que é intemporal, não anterior nem posterior ao tempo, mas que está fora do tempo.”

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