“O que é o tempo?”, perguntou Jorge Luís Borges durante uma palestra pública em
Buenos Aires. “Não sei se, mesmo depois de 20 ou 30 séculos de
meditação, já avançámos muito na questão do tempo. Eu diria que sempre
sentimos esta antiga perplexidade, esta que Heráclito sentiu,
mortalmente, naquele exemplo a que eu volto sempre: ninguém se banha
duas vezes no mesmo rio. Porque é que ninguém se banha duas vezes no
mesmo rio? Em primeiro lugar, porque as águas do rio fluem. Em segundo
lugar - e isto é algo que nos toca metafisicamente, que nos dá uma
espécie de horror sagrado -, porque nós mesmos somos também um rio,
nós também somos flutuantes. O problema do tempo é este. É o problema
da fugacidade: o tempo passa.”
Pouco depois, nesta palestra, Borges retomou o tema da transmigração
ou reencarnação. “Talvez sejamos ao mesmo tempo, como querem os
panteístas, todos os minerais, todas as plantas, todos os animais,
todos os homens. Mas felizmente não o sabemos. Felizmente acreditamos
na existência de indivíduos. Porque senão estaríamos esmagados,
aniquilados por esta plenitude.”
Para Borges, o tempo é a imagem móvel da eternidade. “O tempo é
sucessivo, porque, tendo saído do eterno, quer voltar ao eterno. Quer
dizer, a ideia de futuro corresponde ao nosso desejo de voltar ao
princípio. Deus criou o mundo. E todo o mundo, todo o universo das
criaturas, quer voltar a este manancial eterno que é intemporal, não
anterior nem posterior ao tempo, mas que está fora do tempo.”
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