domingo, 3 de junho de 2018
Os novos "relógios de bolso" - editorial do Relógios & Canetas online de Junho
Os novos “relógios de bolso”
Fernando Correia de Oliveira
Há uns 10 anos, em Hollywood, num jantar com personalidades da indústria cinematográfica, ficámos na mesma mesa que um casal norte-americano, a viver dessa mesma indústria. Ele, advogado, especializou-se em litígios de direitos de autor. Ela, era responsável de Product Placement nos filmes que se iam produzindo. Ele, tinha cada vez mais trabalho. Ela também – mas fez-nos notar, quando soube o que fazíamos – “São cada vez menos os pedidos da Produção em relação a relógios de pulso. Tenho cada vez mais dificuldade em conseguir inclui-los nos adereços”.
É que a realidade do quotidiano, sobretudo entre os mais jovens, passa-se sem qualquer relógio, seja ele de quartzo, mecânico ou conectado. E essa tendência nas sociedades mais avançadas, como o Japão, tem vindo a acentuar-se desde então.
O relógio, um objecto que vai passar à história?
Há dias, em La Chaux-de-Fonds, um velho quadro de uma das mais importantes manufacturas da zona, com 3 décadas de experiência, dizia-nos enquanto almoçávamos, entre o nostálgico e o irónico – “passámos a usar todos, de novo, relógios de bolso”. E tirou o telemóvel do casaco, acenando-o com resignação.
Os CEO’s das marcas e os seus departamentos de Marketing têm acesso a estudos sociológicos, desde há décadas, que permitem verificar essa tendência, cada vez mais reforçada. E não foram, até agora, os relógios conectados, que recuperaram o espaço do pulso para os medidores do tempo entre os que hoje têm 14 ou 15 anos. Eles, tal como os bisavós, voltaram aos “relógios de bolso”, que também fazem muitas outras coisas – e os ligam entre si e ao mundo. Nem bloggers, nem youtubers, nem influencers, nem embaixadores mais ou menos tatuados ou imberbes actores de efémera fama têm conseguido fazer passar a mensagem da relojoaria para essa classe etária. Como baratas tontas, os marketeers e relações públicas disparam em todas as direcções, mas não têm acertado…
O mundo está a mudar, mas ninguém sabe, para já, para onde. Se o relógio, como objecto de aspiração e de estatuto (que não medidor de horas e minutos), vai continuar na equação, é outra incógnita tão profunda como o próprio Tempo.
Já está disponível aqui, aqui ou aqui a edição de Junho do Relógios & Canetas online. São 184 páginas dedicadas à Alta Relojoaria, Instrumentos de Escrita, Jóias e outros objectos de Luxo. Na maior plataforma do seu género em língua portuguesa.
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