[...] Entra Maio, messageiro do Sol, cantando.
MAIO.
"Este he Maio, o Maio he este,
"Este he o Maio e florece,
"Este he Maio das rosas,
"Este he Maio das fermosas,
"Este he Maio e florece,
"Este he Maio das flores,
"Este he Maio dos amores,
"Este he Maio e florece."
Mui muito in'espanto eu
De inundo tão albardeiro,
Que por eu ser prazenteiro,
Me tem todos por sandeu,
E, por sisudo, Janeiro.
Pois hei de tomar prazer,
E não hei de ser com'este;
Que o prazer crece o viver:
E quem isto não fizer
Não terá vida que preste.
"Este he Maio, o Maio he este,
"Este he Maio e florece."
Hei de cantar e folgar,
E bailar c'os corações;
E por me desenfadar,
Farei os asnos zurrar,
E cantar os rousinoes.
E farei calar as rans
De noite, e cantar os grilos,
E as patas pelas manhans;
E alimpar as maçans,
E florecer os pampillos.
Não me hajais por estrangeiro,
Lusitânia, descançae,
Qu'eu sam Maio e messageiro
E principal cavalleiro
Da corte de vosso pae.
E manda-vos visitar,
E mais vos faz a saber
Que vos quer logo casar;
E quer vosso parecer,
Pera se determinar. [...]
Gil Vicente, in Auto da Lusitânia
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