Antero resumiu, com desusado brilho, o tipo do académico revolucionário e racionalista: e daí começou a sua popularidade – e a sua lenda. Não recordo, nem sei se é histórica, essa temerária noite, em que ele, durante uma trovoada, e de relógio na mão, intimou Deus a que o partisse com um raio, dentro de sete minutos, no caso de existir. Desconfio do altivo episódio. Antero não tinha relógio; a sua exegese era já muito fina para assim confundir as maneiras de Jeová com as de Júpiter: – e, se lançou o desafio satânico, foi rindo alegremente do excesso da sua fantasia.
Eça de Queirós, in Um Génio que era um Santo, sobre Antero de Quental
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