domingo, 25 de outubro de 2015
Há dez anos - com Júlio Pomar, em Paris, e os relógios Jaeger-LeCoultre
No final de Outubro de 2005 estávamos por Paris, acompanhando Júlio Pomar numa visita organizada pela Jaeger-LeCoultre. O artista português tinha acabado de produzir uma escultura que acompanharia uma série limitada do modelo Master Control. Visitámos com ele a então recém-inaugurada boutique da manufactura na Place Vendôme. E fizemos depois uma visita ao estúdio do artista Arman, que tinha falecido dias antes. Foi nessas oficinas que a série de esculturas foi realizada.
Na altura, escrevemos sobre o tema para vários meios, nomeadamente para os suplementos Primus, do Público, e Focus Relógios.
Focus Relógios em Paris
Escutar o tempo
Mete a lenda da lebre e da tartaruga, acrescenta-se-lhe uma obra de que se está a comemorar um centenário – o Quixote, de Cervantes. E aí está um belo suporte, todo em bronze, para um relógio. Criado especialmente por Júlio Pomar para a nova edição limitada da Jaeger-LeCoultre para o mercado português.
Inesperadamente, Júlio Pomar faz um reencontro com a sua vida – a boutique Jaeger-LeCoultre na Place Vendôme, em Paris, onde ele faz uma sessão de fotografias com a sua última criação é exactamente o local onde, há 40 anos, expôs pela primeira vez na capital francesa.
Pomar, que tinha já colaborado com a manufactura relojoeira suíça e o seu importador para Portugal na criação de um relógio de série limitada – nesse caso um modelo Reverso, voltou a ser solicitado. E desta vez o objectivo era fazer uma “leitura” escultórica do Tempo.
“A lebre e a tartaruga já povoavam o meu imaginário e a minha obra, especialmente a última. Quando me pediram para interpretar o tempo, com um desenho, não hesitei em juntá-las, pretendendo com isso chamar a atenção para as várias velocidades de um mesmo tempo”, diz Júlio Pomar. “Agora, na escultura, passei alguns dias no atelier de Daniel Pinoy, com quem costume trabalhar os meus bronzes, e os dois animais voltaram naturalmente a aparecer. Como que por acaso, estava por ali uma velha edição da obra de Cervantes, e as coisas encaixaram de novo naturalmente uma nas outras”.
O relógio Jaeger-LeCoultre que ostentará uma discreta assinatura de Pomar será desta vez o modelo Master Control – agora limitado a 30 exemplares. Com movimento automático e 45 horas de reservas de corda, tem rotor e caixa de 40 mm, em ouro maciço, sendo estanque até 50 metros. Custará 19.750 euros e será vendido com o conjunto escultórico em bronze, podendo o possuidor pendurar o Master Control numa das orelhas da lebre. Daí o nome da peça: “Escutando o Tempo”.
A Jaeger-LeCoultre, através da iniciativa do seu importador para Portugal, a C. S. Torres, já tinha feito quatro séries limitadas do modelo Reverso, para o que tinha convidado, além de Pomar, outros artistas plásticos portugueses – Manuel Cargaleiro, Paula Rego e José de Guimarães, que criaram ilustrações para uma das faces do famoso modelo. Esta iniciativa “Escutando o Tempo” deverá iniciar uma série de novas iniciativas com edições especiais Jaeger-LeCoultre para o mercado português, agora numa leitura escultórica.
Edição especial
Pomar e o som do Tempo
O que faz uma tartaruga em cima do D. Quixote, com uma cabeça de lebre na carapaça? O mundo é feito de acasos, que o processo criativo não deve contrariar. É a segunda aventura de Júlio Pomar no mundo do Tempo, um conjunto escultórico que acompanhará um relógio de excepção.
“É um processo criativo semelhante a tantos outros. Como Camões ou Sofia de Mello Breyner, que pegam nas palavras, ao dispor de toda a gente, e que as associam como nunca ninguém o fez”. Mestre Júlio Pomar, de ombro na ombreira, qual verso de O’Neill, sorriso maroto, olhos brilhantes, vai apontando para a encomenda que acaba de chegar ao atelier do seu amigo Daniel Pinoy, no 15º Bairro de Paris.
A peça em bronze, fundida em Marselha, consiste numa base, um livro (D. Quixote), onde está uma tartaruga e, sobre esta, uma cabeça de lebre. Esta espécie de “cadáver esquisito” tem o título de “Écouter le Temps”, e fará conjunto com um relógio Jaeger-LeCoultre Master Control, numa série limitada de 30 exemplares.
O conjunto escultórico servirá ainda de estojo ao relógio e a lebre, com a sua cabeça inclinada, pode servir de escaparate para se pendurar este Master Control de corda automática, com caixa de 40 mm e rotor em ouro maciço, estanque até 50 metros, fundo transparente em vidro de safira. A assinatura de Pomar aparece discretamente no fundo e de lado da caixa. O conjunto custa 19.750 euros.
No meio da confusão criativa do atelier de Daniel Pinoy (que produziu grande parte da obra do recentemente falecido Arman), deambulando por peças suas, arrumadas em prateleiras, à espera de acabamento, Pomar recorda a série de tartarugas-mãos ou de lebres que sempre povoaram o seu imaginário, passando primeiro por desenhos e depois por esculturas.”Não é por acaso que os cães acabam por ser parecidos com os donos”, diz mestre Pomar, reivindicando-se indirectamente meio tartaruga, meio lebre. “Não devemos encontrar grande explicação para as coisas, são assim, e pronto. Obra do destino”.
Depois de almoço, já na boutique Jager-LeCoultre na Place Vendôme, onde mestre Pomar se presta a uma sessão de fotografia, para curiosidade de clientes japoneses, o destino parece bater mais uma vez à porta do artista. Ele acaba por descobrir que aquela casa, agora muito transformada, foi nos anos 60 do século passado uma galeria de arte. A primeira onde expôs a sua obra, em Paris, quando vivia ali o exílio. Hoje, reparte a sua vida entre a capital francesa e Lisboa.
Não é a primeira vez que Júlio Pomar aceita o desafio de “ler” o Tempo. Para a Jaeger-LeCoultre tinha feito anteriormente um desenho, que depois foi gravado numa série limitada de modelos Reverso, com a fábula da lebre e da tartaruga. Isso deu início a outras experiências com o Reverso, tendo participado também Manuel Cargaleiro, Paula Rego e José de Guimarães.
A ideia da Jaeger-LeCoultre e do seu representante em Portugal, a C. S. Torres Distribuição, é iniciar agora uma leitura escultórica do Tempo, lançando o desafio a outros artistas plásticos portugueses. “Écouter le Temps” foi apenas a primeira.
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