quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Há dez anos... em Paris, com a Fundação Rolex


O grupo português à Gala da Fundação Rolex 2004, em Paris (arquivo Fernando Correia de Oliveira)

Há precisamente dez anos, estávamos por Paris, para assistir à edição 2004 da Gala dos Prémios Iniciativa, da Fundação Rolex.

Escrevíamos então para a Internacional Horas & Relógios:

Rolex destaca espírito de iniciativa

A mais famosa marca de relógios do mundo, a Rolex, mantém desde há quase 30 anos um programa de apoio a gente muito especial, que tenha um sonho na vida e não saiba como realizá-lo. Desde que esse projecto seja para o bem comum, a Fundação Rolex abre os cordões à bolsa e, num ano, o sonho torna-se realidade. É “apenas” preciso espírito de iniciativa.

Fernando Correia de Oliveira, em Paris

Durante a sua infância, na quinta dos pais, Lonnie Dupre, fascinado pelo Grande Norte, deleitava-se com os Invernos cheios de neve do Minnesota. Hoje, com 43 anos, ele tem no seu currículo seis grandes expedições no Ártico, entre elas a primeira volta completa da Gronelândia em trenó puxado por cães e kaiak. Em 2005, ele tentará com o seu companheiro de aventura Eric Larsen a primeira travessia no Verão do oceano Ártico em kaiak e ski, sem ajuda exterior, a fim de chamar a atenção para a ameaça que representa o aquecimento do planeta, em particular para o Ártico e para os seus eco-sistemas vulneráveis. “O principal perigo, de noite, serão os ursos. De dia, será gelo fino, cada vez mais fino, que há cinco ou dez anos tinha grande espessura”, disse ele em Paris a Internacional Horas & Relógios. “Ninguém sabe como estão as coisas por lá, cada ano derrete mais calote polar”.


Lonnie Dupre (arquivo Fernando Correia de Oliveira)

Dupre foi, com outros quatro espíritos empreendedores, escolhido em mais uma edição do The Rolex Awards for Enterprise, um evento que desta vez teve a sua gala em Paris, num jantar ocorrido no Palácio de la Conciergerie, e perante convidados vindos de todo o mundo.

Este explorador, bem como os restantes premiados, bem pouco à-vontade no ambiente requintado da festa, mais preparados para a actuação pura e dura no terreno, foram escolhidos entre mais de 1.700 candidaturas, vindas de 116 países, num prémio que já permitiu a realização do sonho de uma vida a 55 pessoas. Uma bolsa de 100.000 mil dólares (quase o equivalente em euros) e um relógio de pulso Rolex, um cronómetro certificado em ouro, são o prémio que cada um dos laureados recebe.

Numa cerimónia apresentada pela actriz Charlotte Rampling, e com a presença de todos os anteriores laureados franceses, ficou a saber-se que Claudia Feh era outra das escolhidas. Ela passou mais de trinta anos a observar cavalos a viverem em liberdade, tornando-se numa especialista mundial no seu comportamento. Desde há dez anos, esta suíça de origem cria em França a única manada de cavalos selvagens de Przewalski conhecida no mundo. Em Setembro deste ano, ele reintroduziu o primeiro de dois grupos de 12 cavalos dessa raça nas estepes da Mongólia, sua região de origem.

O espírito de iniciativa de David Lordkipanidze manifestou-se de outro modo: este paleoantropólogo georgiano descobriu em 1991 na localidade de Dmanissi, no seu país natal, os mais velhos fósseis de hominídios eurasianos. Ele tem dirigido, num contexto político, social e económico muito difícil as explorações no local, que já é considerado como um dos mais importantes para o estudo da pré-história da humanidade. O prémio “vem ajudar a estabilizar as coisas do ponto de vista económico e fortalecer a cooperação internacional”, disse ele a Internacional Horas & Relógios. “Vamos iniciar um programa de intercâmbio de estudantes com a universidade portuguesa de Coimbra”, anunciou.

Teresa Manera, paleontóloga e geóloga argentina, luta há anos para salvar um conjunto único de vestígios de animais que estavam presentes há 12 mil anos na costa atlântica do seu país. Este local especial, com cerca de três quilómetros de extensão, tem ossadas, mas especialmente pegadas de várias espécies de animais entretanto desaparecidos. Mas toda a zona está ameaçada pela subida do nível das águas e pelo turismo. Enfrentando problemas técnicos e burocráticos, Teresa está numa corrida contra o tempo, e o dinheiro do prémio vai servir “para acelerar o processo de preservação em moldes de látex de todas as pegadas”, disse. “Também estamos a tentar que os turistas deixem de poder circular livremente pelo local”.

Finalmente, o japonês Kikuo Morimoto, conta como tomou forma o projecto que uma vida: emocionou-se ao ver os campos cambojanos devastados por décadas de guerra e ditadura de terror. Especialista em seda, deixou um emprego seguro na Tailândia para, nos anos 90, abrir um atelier de tecelagem de seda no Camboja, ajudando uma população miserável a melhorar economicamente a sua vida e a fazer renascer técnicas tradicionais que estavam em risco de desaparecer para sempre. Hoje, são centenas de pessoas que beneficiam economicamente do projecto, vendendo sedas que são património do Camboja, mas também da Humanidade. Agora, com o dinheiro obtido, vai criar uma “aldeia da seda”, modelo que ajudará o Camboja rural a renascer.

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