quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Meditações - hora lunar

Minuete invisível

Elas são vaporosas,
Pálidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar..

Vêm, aéreas, dançar
Com perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos...
Chora no som dos repuxos
O ritmo que há nos seus vultos...

Passam e agitam a brisa...
Pálida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em auréola à hora...

Passam nos ritmos da sombra...
Ora é uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene...

E assim vão indo, delindo
Seu perfil único e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lívido e frio...

Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longínquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Pálido pálio lunar...

Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Nunca Pessoa colheu
    uma rosa na existência:
    enquanto que ele viveu,
    tudo foi mera aparência!

    JCN

    ResponderEliminar