Estação Cronográfica: Há dez anos... em La Côte-aux-Fées, nos 130 anos dos relógios Piaget

Da esquerda para a direita: Edouard Cottin, na altura responsável pela Piaget na Península Ibérica, hoje Director Interncional de Vendas da marca; o relojoeiro responsável pela unidade de La Côte-aux-Fées; a relações públicas da Piaget ibérica; Dora Troncão, na altura na Internacional Horas & Relógios (extinta), hoje freelancer; José Manuel Moroso, na altura no Expresso, hoje freelancer; Jorge Diniz, na altura responsável da Relógios & Jóias (extinta), hoje empresário; Fernando Correia de Oliveira, na altura Editor de Sociedade do Público, hoje freelancer (foto arquivo Fernando Correia de Oliveira)

Há dez anos, mais ou menos por esta altura, estávamos em La Côte-aux-Fées, Suíça, no âmbito das comemorações dos 130 anos da Piaget. A manufactura tem nessa pequena localidade as suas raízes históricas.

Sobre esta viagem, escrevemos o seguinte na Internacional Horas & Relógios:

Piaget faz 130 anos

Jóia por fora e por dentro

Fernando Correia de Oliveira, em La Cote-aux-Fées

(arquivo Fernando Correia de Oliveira)

Piaget comemora 130 anos em plena forma e cada vez mais a provar que, por dentro de uma caixa de luxo, sempre em pedras e metais preciosos, está também um saber-fazer relojoeiro como poucos hoje se podem gabar.

Estivemos mais uma vez em La Cote-aux-Fées, a sede da manufactura Piaget. O motivo, a comemoração dos seus 130 anos e a apresentação dos produtos que seriam apresentados semanas depois no Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH), em Genebra.

Foi naquela aldeia tipicamente suíça, em pleno Jura, com Invernos intermináveis e estradas intransitáveis durante meses, devido à neve, que Georges-Edouard Piaget fundou em 1874 a sua manufactura relojoeira.

Filho destes vales jurássicos, ele soube desde o início impor o seu trabalho, graças a uma qualidade inultrapassável: uma rigorosa ética protestante aliava-se aqui a um isolamento forçado pela Natureza (o que seria, afinal, a génese de toda a indústria relojoeira suíça) – a firmeza do gesto ia-se aprendendo de geração em geração, a firmeza da palavra dada dava a conhecer os Piaget a um sector fechado e conservador. A primeira oficina da manufactura fica mesmo instalada por debaixo da sala de oração comunal.

130 anos mais tarde, o nome Piaget emparceira com alguns outros, poucos, que evocam luxo, requinte, sofisticação. Mas, apesar da manufactura ter sempre fabricado mecanismos próprios – especializando-se em movimentos extra-planos – a imagem que foi passando foi, até há pouco, a de uma casa joalheira, de relógios-jóia. Isto, enquanto os seus belos e sofisticados movimentos eram vendidos a outras manufacturas, que gozavam de renome mais relojoeiro.

Comprada pelo grupo Richemont, que lidera as marcas de alta relojoaria, a Piaget tem-se preocupado nos últimos anos em recentrar a sua tradição – sem abandonar a imagem de relógio-jóia, sem abandonar o mercado feminino, foi aos arquivos, motivou os seus mestres relojoeiros, lançou um turbilhão. Isto foi há três anos. O Emperador ficou para a história como o mais fino turbilhão do mundo. A tradição relojoeira estava relançada. E o Emperador foi sendo declinado em complicações sucessivas, acrescidas ao turbilhão. O esqueleto foi o modelo lançado este ano no SIHH.

Este ano, a Piaget comemora outro aniversário – o quarto de século da sua linha Polo, um modelo tornado clássico em pouco tempo. Mas as linhas Altiplano (equipada com o célebre movimento manual 430P, um dos mais finos do mundo) ou Limelight (feminina, com excepcionais criações em relógios-jóia) também se têm firmado no difícil sector que é o cruzamento jóia/alta relojoaria.

A Piaget é liderada por Philippe Léopold-Metzger, um homem ligado há 23 anos ao sector da relojoaria e que foi o responsável pelo relançamento da marca como imagem de saber-fazer relojoeiro. Mas a linha de jóias e de relógios-jóias não foi esquecida. A Piaget conseguiu, com independência, aproveitar as sinergias comerciais e de marketing do grupo Richemont (que tem ainda Cartier, Vacheron, Lange, IWC ou Jaeger, por exemplo). Para a Piaget, os mercados emergentes – China, Rússia, Índia, estão a ser “formidáveis”, nas palavras do seu PDG. Garantia de que a manufactura das caixas-jóias continuará a existir – cada vez mais com um coração mecânico de grande qualidade dentro.