quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Meditações - quadro invernal

Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor! – do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha

2 comentários:


  1. Quando cai neve sobre as nossas vidas
    já para nada serve a poesia:
    batidas pelos ventos da invernia,
    as rosas fazem suas despedidas!

    JCN

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  2. Segue para soneto:

    Estando nossas almas deprimidas
    mesmo que em termos só de alegoria,
    a sua verve permanece fria
    ainda que do frio protegidas.

    A poesia quer calor, verão,
    nuvens de fogo, ondas do mar revolto,
    brasas incandescentes de carvão.

    Se assim não for, deixa de ter sentido
    todo e qualquer poema em verso solto
    ou a meras palavras... reduzido!

    João de Castro Nunes

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