Saiu mais um número da revista Stratosphere. Desta vez, Estação Cronográfica contribuiu com um artigo sobre o Grande Prémio de Relojoaria de Genebra 2013. Se há distinções, incluindo o Ponteiro de Ouro, para o Escape Constante da Girard-Perregaux, que não merecem contestação, outras são completamente inesperadas e até controversas, naquela que nos pareceu ser a mais blasé das edições deste prémio, cada vez mais distante da realidade e da base industrial de que é, afinal, feita a relojoaria suíça, e de onde vem a sua verdadeira força.
Força Constante da Girard-Perregaux ganha Ponteiro de Ouro
Grande Prémio de Genebra premeia inovação e raridade
Fernando Correia de Oliveira
A 13ª edição do Grande Prémio de Relojoaria de Genebra consagrou o revolucionário Girard-Perregaux Constant Escapement L. M. como o relógio do ano, ao atribuir-lhe o galardão máximo, o Ponteiro de Ouro. Uma decisão consensual, no meio de algumas bem mais polémicas.
Em cerimónia realizada por estes dias em Genebra, foram anunciados os 15 prémios mais prestigiados do sector relojoeiro. Além da Girard-Perregaux, outro vencedor da noite foi a A. Lange & Söhne. O seu 1815 Rattrapante Calendário Perpétuo venceu na categoria Grande Complicação e no Prémio do Público, que votou através da Internet.
Os 15 galardões distribuídos pela organização do Grande Prémio foram decididos por um júri internacional que incluiu colecionadores, peritos e jornalistas. O Prémio Especial do Júri foi para o mestre relojoeiro suíço Philippe Dufour, que depois de trabalhar na Jaeger-LeCoultre, na Audemars Piguet e na Gerald Genta, decidiu criar a sua própria marca, em 1989. A sua especialidade são as Grandes Complicações, nomeadamente sonneries.
“Ganhar o Ponteiro de Ouro é uma emoção enorme, que cala profundamente em mim, e que é a consagração do trabalho, da paixão e do amor da minha equipa em prol da arte da relojoaria”, disse Michele Sofisti, CEO da Girard-Perregaux.
Figuras públicas como o designer Philippe Starck, o joalheiro indiano Viren Baghat, ou o arquitecto Jean-Michel Wilmotte, associaram-se à gala, com a sua presença e entregando alguns dos prémios.
A edição de 2013 do grande Prémio terá sido a que maiores surpresas trouxe, especialmente no capítulo dos relojoeiros independentes, com uma produção diminuta e praticamente desconhecidos do grande público. A ausência das marcas do Swatch Group, o maior do mundo, e que tem um portefólio que inclui Breguet, Blancpain, Jaquet Droz ou Omega, para não falar noutras mais “banais” continua a pesar negativamente num prémio que, como todos, suscita sempre polémica no meio.
O Girard-Perregaux Constant Escapement não foi surpresa. Ele já ganhou vários prémios de Relógio do Ano em outras competições. E merece-o. A inovação tecnológica é de monta: o escape tradicional, de âncora, foi substituído por uma lâmina de silício, com 14 microns de espessura, seis vezes mais fina que um cabelo, e cujas ondulações garantem uma distribuição constante da força que vem da corda.
O A. Lange & Söhne, 1815 Rattrapante Calendário Perpétuo, com dois galardões, também não constitui surpresa. Ele foi o relógio mais falado no Salão de Alta Relojoaria de Genebra, em Janeiro, e também tem ganho outros prémios, sublinhando a capacidade micromecânica na manufactura alemã, que agora coloca no pulso de uns poucos de eleitos um cronógrafo com rattrapante, calendário perpétuo com fases de lua.
Nos relógios femininos complicados, era esperada a vitória do Van Cleef & Arpels, Lady Arpels Ballerine Enchantée, um autómato onde o tutu da bailarina dá as horas e os minutos. Já nos femininos simples, foi para nós surpresa a preferência pelo DeLaneau Rondo Translucent Champagne, de uma manufactura praticamente desconhecida do grande público e com uma produção e distribuição limitadíssimas (e o modelo vencedor é exemplar único!). Também nos relógios-jóia, o destaque para o Chopard L’Heure du Diamant nos parece demasiado “blin bling”. Os gostos vindos do leste ganham cada vez mais peso neste tipo de escolhas…
Outra escolha que nos pareceu um tanto ou quanto esotérica foi a do Relógio Masculino Complicação. O Romain Gauthier, Logical One é outro caso de uma marca sem expressão global e com uma produção diminuta. Mas essa linha de esoterismo venceu também numa categoria tão importante como seja o Relógio Masculino: o Voutilainen V-8R é uma peça muito interessante, Kari Voutilainen é um extraordinário mestre relojoeiro contemporâneo… mas quantos poderão comprar uma peça destas? Não é apenas o preço, mas também a raridade do produto que torna estas escolhas um pouco inesperadas.
Se, no Prémio de Inovação se está sempre à espera de um “bicho esquisito”, produto de um pequeno mas criativo relojoeiro independente (e Vianney Halter, com o seu Deep Space Tourbillon, está de parabéns), já na categoria do Relógio Métiers d'Art, a escolha foi de novo surpreendente. Em vez de premiar uma manufactura relojoeira pura, com tradição secular nas artes e ofícios usadas na relojoaria, o júri decidiu ir para a moda e escolher o Chanel, Mademoiselle Privé Camélia Brodé.
No Relógio Desportivo, uma escolha consensual, o Zenith El Primero Stratos Flyback Stricking 10th, a par de um merecido Prémio Pequeno Ponteiro para a empresa familiar austríaca Habring, que com o seu Habring2 Jumping Second Pilot demonstra que se podem fazer relógios mecânicos, com complicações interessantes e a preços razoáveis.
O Prémio Revivalismo foi para um dos relógios que, esteticamente, mais tem dado que falar, desde que foi apresentado em Abril, na Baselworld, o Tudor Heritage Black Bay. Finalmente, numa categoria onde o exotismo também é esperado, o Prémio Revelação foi para o Ressence, Type 3, que flutua num líquido.
Legendas
Girard-Perregaux Constant Escapement L.M.. Caixa de 48 mm, de ouro branco. Calibre de carga manual, com duplo tambor de corda e uma semana de autonomia.
A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante Calendário Perpétuo . Caixa de 41,9 mm, de platina. Calibre de carga manual, com 631 componentes.
Van Cleef &Arpels Lady Arpels Ballerine Enchantée. Caixa de 40,5 mm, de ouro branco. Calibre de carga manual, com horas e minutos retrógrados e horas a pedido. No âmbito das complicações poéticas da casa.
DeLaneau Rondo Translucent Champagne. Caixa de 36 mm, de ouro rosa. Calibre automático. Peça única.
Romain Gauthier Logical One. Caixa de 43 mm, de platina. Calibre de carga manual, com sistema de força constante de fuso e corrente.
Voutilainen V-8R. Caixa de 39 mm, de ouro vermelho. Calibre de carga manual. Limitado a 25 exemplares.
Vianney Halter Deep Space Tourbillon. Caixa de 46 mm, de titânio. Calibre de carga manual, com turbilhão e 60 horas de autonomia.
Chopard L’Heure du Diamant. Caixa de 30,6 mm, de ouro rosa. Calibre automático.
Chanel Mademoiselle Privé Camélia Brodé. Cixa de 37,5 mm, de ouro branco, com 562 diamantes. Calibre automático. Limitado a 18 exemplares. Mostrador com uma camélia bordada segundo a técnica da Alta Costura.
Zenith El Primero Stratos Flyback Stricking 10th. Caixa de 45,7 mm, de aço. Cronógrafo automático com flyback.
Habring2 Jumping Second Pilot. Caixa de 50 mm, de aço. Calibre de carga manual, com segundos saltantes ou “mortos”, permitindo a leitura exacta do tempo, ao segundo (ao contrário da tradicional trotteuse).
Tudor Heritage Black Bay. Caixa de 41 mm, de aço. Estanque até 200 metros. Calibre automático. Inspirado num modelo de mergulho de 1954.
Ressence Type 3. Caixa de 44 mm, de titânio. Calibre automático. O módulo de leitura do tempo bóia numa cápsula de óleo e está ligado ao mecanismo através de uma transmissão magnética. Uma Gaiola de Faraday protege o calibre.
Philippe Dufour é membro da Associação de Relojoeiros Criadores Independentes (AHCI). Trabalha sozinho, ajudado pela filha e por um jovem assistente. É um dos mais respeitados relojoeiros criadores da actualidade. Mantém uma produção muito limitada.
ResponderEliminarQuase nunca os premiados
em qualquer modalidade
são por norma os mais dotados
nessa especialidade!
JCN
JCN