domingo, 17 de novembro de 2013

Meditações - como ponteiros desencontrados de um velho relógio

Por todos os caminhos do mundo

A minha poesia é assim como uma vida que vagueia pelo mundo,
por todos os caminhos do mundo,
desencontrados como os ponteiros de um relógio velho,
que ora tem um mar de espuma, calmo, como o luar
num jardim nocturno,
ora um deserto que o simum veio modificar,
ora a miragem de se estar perto do oásis,
ora os pés cansados, sem forças para além.

Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe
o rumo e a hora de o atingir,
a tranquilidade de quem tem na mão o profetizado
de que a tempestade não lhe abalará o palácio,
a doçura de quem nada tem a regatear,
o clamor dos que nasceram com o sangue a crepitar.

Na minha vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo norte.
Que ninguém me peça nada. Nada.
Deixai-me com o meu dia que nem sempre é dia,
com a minha noite que nem sempre é noite
como a alma quer.

Não sei caminhos de cor.

Fernando Namora

2 comentários:


  1. Por todos os caminhos onde andei
    dentro de portas ou além fronteiras
    marcas de mim confesso que deixei
    profundas, indeléveis, verdadeiras!

    JCN

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  2. (continua para soneto)

    Meus pés feri nos cardos das estradas
    quedo meu sangue em borbotões enchi
    ora subindo ora descendo escadas
    de que não mais por certo me esqueci.

    Tenho-as de cor no espírito metidas
    para de quando em vez as percorrer
    em virtuais viagens repetidas.

    Uma odisseia foi minha existência
    por becos, azinhagas sem temer
    à prova pôr a minha resistência!

    João de Castro Nunes

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