domingo, 8 de setembro de 2013

Meditações - a ver passar o tempo

Contemplação

Vejo passar o tempo, o rio calmo
Onde se afoga o desespero humano;
Imagino-lhe a foz, no trágico oceano
Da morte;
E a nenhum Sul ou Norte
Consciente
Consigo vislumbrar-lhe a lírica nascente.

Já caudaloso em cada latitude,
Em vão procuro a fonte
Que lhe dê começo:
A madrugada de uma telha de água,
Hesitante
Antes do grande dia
Que toda a madrugada principia.

Ganges sagrado do desassossego,
Vem dos confins do nada
Em direcção ao grande mar vazio;
E à tona da barrenta omnipotência,
Leva a cega inocência
Naufragada
De cada vida nele purificada.

Miguel Torga

3 comentários:

  1. O tempo ver passar
    sem querer inquirir
    para onde se quer ir
    ou se pretende estar
    é a pura maldição
    da humana condição
    que importa corrigir
    para um qualquer sentido lhe encontrar!

    JCN

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  2. Mais que a foz onde vai ter
    importa averiguar
    donde poderá brotar
    um qualquer rio ao nascer!

    JCN

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  3. O tempo no seu trajecto
    por ninguém se deixa ver,
    seja às curvas ou directo
    o seu jeito de correr!

    JCN

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