sábado, 31 de agosto de 2013

Meditações - o tempo, finalmente, parou

Silêncios

Silêncio - para escutar os mil ruídos
que zumbem ao redor. Silêncio, para adivinhar
os mil ruídos de tudo o que está quieto.
Silêncio, para chegar enfim ao coração
onde os ruídos da memória se transformam em música.
Essa música é um canto molhado que eu sempre adiei.
É o instante em que cruzei o olhar do mendigo
e me vi nele. É uma saudade funda
que já cá estava quando nasci.
Deixa que esse canto de menino - ou de rapariga? -
se extinga, como chuva que se cansou no beiral.
Então aí o silêncio tem algo da poeira e da
penumbra: é uma viagem feita ao contrário
até às paredes cor-de-rosa do quarto materno.
Silêncio. Agora é já só o sorriso, um sol
a bater nos cortinados. E com esse sorriso
à minha frente, deixei de esperar.
O tempo, finalmente, parou.

Jorge Guimarães

1 comentário:

  1. Do silêncio a voz potente
    dá-me cabo dos ouvidos:
    até me sinto doente
    de escutar seus alaridos!

    JCN

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