Verão na aldeia
Perguntas em que gasto o tempo? Manhã cedo
bebo um tarro de leite fresco e desço ao vale.
Falo em ceifa e vindima aos homens do casal,
e às moças, do arraial vizinho e seu folguedo.
Almoço. Durmo a sesta. Saio. Escuto o ledo
carrascar da cigarra, ao grande sol brutal.
Chiam carros de bois. Leve, como um pardal,
arranho-me, a apanhar amora num silvedo.
Morre o dia. Entre os choupos dum atalho ínvio,
sigo, rumo de casa, a costear o rio,
que a viração da tarde enruga levemente.
Alucina-me a hora... Um sátiro traquinas
segue, na margem verde, umas formas divinas
alvejando ao clarão do sol deliquescente.
Cardoso Martha
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