terça-feira, 19 de junho de 2012

Meditações - noite de cicuta e de veludo

Canção da noite

Toda a gramática dos meus cavalos
Foi um arrastar de carros, passo a passo,
Ó noite, chicoteia os meus cavalos!
Trago os olhos abertos. Vem fechá-los!
E deita areia e tojo em teu regaço!

Ergui no ar sonâmbulas espadas
E calei preces, em delírio mudo.
E és tu que me deformas e degradas.
Insónia, mãe das culpas ignoradas.
Ó noite de cicuta e de veludo!

A escolta dos mendigos não tem fim.
E são tão poucos os que pedem pão!
Quisera adormecer dentro de mim…
Por que enganaste o sonho do arlequim
Se não há sombra, ó treva, em tua mão?

Que ninguém me responda! Estou cansado.
(Rompi o fato. A arena era redonda…)
Por que há-de ser só nosso o que é roubado?
Que ninguém me responda! Estou cansado…

- Ah! Não haver ninguém que me responda!

Pedro Homem de Mello

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