terça-feira, 22 de maio de 2012

Meditações - vai dia trás dia

O sol é grande, caem co'a calma as aves,
do tempo em tal sazão que soe ser fria;
esta água, que d'alto cai, acordar-me-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração, qu'em vos confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
incertos muito mais do que ao vento as naves.

Eu vira aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m'eu fiz doutras cores;
e tudo o mais renova, isto é sem cura!

Sá de Miranda

1 comentário:

  1. A verdade dizer manda
    que aos de Camões comparados
    os versos de Sá de Miranda
    são toscos, rudes, pesados!

    JCN

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