domingo, 4 de março de 2012
Elegia a um velho relojoeiro de província
Primeiros de Março. Nuvens negras surgem do norte, puxadas por um vento súbito de meio da tarde. O vale do Tejo torna-se cinzento, depois de semanas de céu azul e seco, de frio. Na estreita rua da vila, por detrás de uma janela que não se abre há meses, no silêncio concentrado de sempre, o velho relojoeiro mostra-se / esconde-se a quem passa.
Passada a estreita porta de madeira, numa divisória de 2 x 2 metros, a nitidez do quadro aumenta. Sentado na sua concentração, o velho relojoeiro prossegue um ofício que acabará com ele. Tudo o que ali está acabará com ele.
Carlos Ribeiro começou aos 11 anos o ofício do pai - relojoeiro. Hoje, à porta dos 80 anos, operado aos olhos recentemente, teima em continuar. O tic-tac das pequenas máquinas continua a ser a seiva que alimenta os seus dias. Quantos como ele, por esse país, estão também a preparar um ocaso sem fanfarras? Quantas pequenas oficinas de relojoeiro foram desaparecendo nas últimas décadas, pela província, sem que novos relojoeiros lhes tenham sucedido?
O velho relojoeiro
ResponderEliminarda minha aldeia natal
constitui u verdadeiro
monumento nacional!
JCN
Corrijo a gralha "u" por "um". JCN
ResponderEliminarUma estátua merecia
ResponderEliminaro velho relojoeiro
que na aldeia em que vivia
do tempo era o curandeiro!
JCN
Bela homenagem, parabéns.
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