sábado, 7 de janeiro de 2012

Meditações - noite de inverno

Lacrimae rerum

Noite de inverno sobre terra alheia...
Oh, quem me dera ouvir a voz da Raça!
Só oiço o vento que lá fora anseia,
- um vento que me corta e me repassa!

Na angústia de que trago a alma cheia
faltas-me tu, falta-me a tua graça!
Mas mesmo assim me serves de candeia,
soltando ao longe a flama que esvoaça!

E enquanto o vento se desfaz lá fora
e o lume, triste, dá tristeza à gente,
meus sonhos vão murchando um a um...

Volvo a menino! Oh, quem soubesse agora
cantar-me longa e embaladoramente
a bárbara canção do Mirandum!

António Sardinha, in Quando as Nascentes Despertam

1 comentário:

  1. Ninguém melhor que tu soube cantar,
    caro António Sardinha, o alvor da Raça,
    mesmo nas suas noites sem luar
    em pleno inverno, em horas de desgraça!

    JCN

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