a água nas Nascentes se renova,
dentro de mim acorda soluçando
não sei que estranha, quando impossível trova!
É queixa amargurada que se amplia
nas íntimas penumbras do meu ser.
No entanto, deixa-me um rasto de alegria,
- e eu gosto de a escutar e de a sofrer!
Eu gosto de sofre-la e de escutá-la,
quando as Nascentes desabrocham, tontas...
De quem és tu, embriagadora fala?
Que idílio incerto é esse que me contas?
Canção de Silvaninha prisioneira,
- canção da Dona Infanta no terraço...
Terei alguém no mundo que me queira
e não me negue o alívio do seu braço?
E cantam as Nascentes...
Bem-Amada,
nunca me esquece, nunca, o teu enlêvo!
Tu és a minha Fonte renovada,
- de ti me vem a ânsia com que escrevo!
Jardim fechado!... E cantam as Nascentes
Que triste não será o envelhecer?!
E as horas passam, - passam, imprudentes,
- as horas passam, doidas, a correr! [...]
António Sardinha, in Quando as Nascentes Despertam
Improvisando sob a inspiração de António Sardinha, o António de Monforte dos tempos de estudante:
ResponderEliminar"AS HORAS PASSAM"
As horas vão passando certamente
sem dar sequer por nós nesta existência
onde em verdade é tudo contingência,
menos talvez aquilo que se sente!
Vão-se escoando as horas, uma a uma,
a tudo o que nos toca indiferentes,
enquanto os nossos ideais latentes
se desfazendo vão como alva espuma!
Neste processo, como alguém já disse,
a vida se nos vai sem darmos conta
de estarmos já nos braços da velhice.
Impreterivelmente, por seu lado,
o tempo, à margem de qualquer afronta,
segue o seu curso alheio ao nosso estado!
JOÃO DE CASTRO NUNES