quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Memória - O cérebro e o tempo - I
O cérebro e o tempo I*
Um dos grandes desafios actuais da chamada cronobiologia é saber como o cérebro humano tem a noção de tempo, onde é que se centram as zonas processadoras dessa noção, como é que as condições externas e internas ao organismo influenciam a medição objectiva e subjectiva do tempo.
Num artigo publicado no mais recente número do Scientific American, Pascal Wallisch dá-nos o estado da arte nesta frente tão importante para se compreender o comportamento humano.
Sabemos, pelo senso comum e pela experiência quotidiana, que a nossa percepção de tempo varia. Desde logo, no aqui e agora, as fases mais atarefadas da nossa vida parecem curtas, as fases mais monótonas surgem-nos como longas. Surpreendentemente, nas nossas memórias, acontece exactamente o contrário.
Por outro lado, dois acontecimentos poderão parecer simultâneos à vista, mas soam-nos sequencialmente, porque o sentido humano da audição é muito mais apurado que o da visão na percepção de acontecimentos que ocorrem em intervalos muito pequenos um dos outros.
Depois, e à luz dos mais avançados sistemas de leitura da actividade cerebral, não haverá apenas um único centro do tempo – o cérebro contém uma série de relógios internos e de detectores de ritmos, todos eles influenciando a experiência de tempo.
Pascal Wallisch, que é professor de Psicologia no Centro de Ciência Neurológica da Universidade de Nova Iorque, recorda-nos que a nossa sensação de tempo acelera ou abranda em resposta a muitos factores, incluindo o medo e o stress.
Altas temperaturas estão associadas a uma expansão do chamado tempo subjectivo (o tempo que sentimos), enquanto temperaturas corporais baixas estão associadas a um encurtamento desse tempo subjectivo. “Por outras palavras, diz Wallisch, uma pessoa com febre tem tendência a perceber um determinado período de tempo como mais longo do que alguém sem febre”.
Além disso, o tempo parece passar muito depressa quando estamos sujeitos a um número elevado de estímulos novos, em mudança rápida ou complexos – como, por exemplo, quando estamos a jogar um jogo de vídeo. “Presumivelmente, os recursos limitados da nossa atenção são absorvidos pelas exigências de uma situação que exige percepção de ritmo rápido”, diz o especialista. “Pelo contrário, durante períodos de baixa estimulação – como quando esperamos numa longa fila ou quando estamos a desempenhar tarefas de rotina – o tempo parece passar muito lentamente”.
O psicólogo britânico John Wearden, da Universidade de Keeele, na Inglaterra, fez em 2005 uma experiência com dois grupos de alunos, fechados numa sala. A um, mostrou-lhes 9 minutos do filme Armagedão, a outro não lhe deu nada para ver ou fazer. Imediatamente após a experiência, os alunos foram interrogados. Claramente, o tempo subjectivo passou mais rapidamente para o primeiro que para o segundo.
Mas o mais interessante foi que, interrogados horas mais tarde, os que ficaram sem nada que fazer na sala calcularam em cerca de 10 por cento menos o tempo decorrido do que os que tinham estado entretidos a ver o filme.
Conclusão: em retrospectiva, um acontecimento cheio e interessante parece-nos mais longo do que realmente foi, as fases de tédio mais curtas, vistas a longo prazo.
*Primeira de uma série de crónicas, A Máquina do Tempo, dedicadas a este tema, começadas a publicar em Março 2008 no Casual, suplemento do Semanário Económico
Do tempo nem todos temos
ResponderEliminara mesma exacta noção
havendo casos extremos
quanto à sua percepção!
JCN