segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Meditações - Ano Novo

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987), poeta brasileiro. Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.

3 comentários:

  1. Para cada criatura
    é dentro do coração
    que o Ano Novo procura
    deitar raízes no chão!

    JCN

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  2. Tanto paleio, Drumond,
    para um voto formular
    de um ano próspero e bom
    do mundo em cada lugar!

    JCN

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  3. Para ser feliz na vida
    não há nenhuma receita:
    cada qual sabe à partida
    na tarimba em que se deita!

    JCN

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