sábado, 26 de novembro de 2011
Memória - Há 40 anos, apareciam os relógios de quartzo e os primeiros cronógrafos automáticos
Os tempos estavam mesmo a mudar…
Fernando Correia de Oliveira*
Havia qualquer coisa no ar. Os filhos da geração que tinha sobrevivido à II Guerra Mundial, do chamado “baby boom”, entravam na adolescência e não se sentiam bem na realidade que lhes era imposta. A verdade estava no vento, mas os mais velhos não queriam ouvi-la. E os tempos estavam a mudar, quer se quisesse, quer não, como vaticinava um Bob Dylan febril. Na Relojoaria, o quartzo não iria deixar pedra sobre pedra. Apesar da resistência heróica da tradicional escola mecânica, que lançava então os primeiros cronógrafos automáticos de pulso.
A 3 de Março de 1969, a nata da imprensa especializada é convocada a viver um momento único: à mesma hora, num salão do Hotel Continental de Genebra e no Copter Club do edifício da PAN-AM, em Nova Iorque, é apresentado ao mundo o primeiro cronógrafo de pulso com corda automática.
Depois de quatro anos de intenso trabalho, surgia um calibre com micro-rotor, revolucionário, e que iria equipar modelos Breitling, Hamilton-Buren e Heuer.
O extraordinário desenvolvimento micro-mecânico tinha saído dos ateliês de relojoaria e engenharia de Bienne, na Suíça. Isto num momento em que a indústria se debatia com a estagnação nas vendas dos cronógrafos de corda manual e se perfilava no horizonte um fantasma poderoso: o movimento de quartzo.
É no início dos anos 60 que Jack Heuer entra em acordo com o seu grande rival, Willy Bretiling. A aliança vai incluir dentro de pouco tempo Hans Kocher, director-técnico da Buren Watch SA, e a Dubois-Dépraz SA. De fora fica a Zenith, que também está a trabalhar num calibre cronógrafo automático. No Japão, de onde viria dentro em pouco a ofensiva maciça do quartzo, os gigantes Seiko e Citizen também estavam na corrida do cronógrafo automático.
O consórcio a quatro, iniciado em 1965, tem para o seu plano secreto um nome de código: “99”. Em 1966, os americanos da Hamilton Watch Company juntam-se na prática ao grupo, ao ficarem com a maioria do capital da Buren.
Na Primavera de 1968 são efectuados os primeiros ensaios conclusivos e experimentados os protótipos. Tinha nascido o calibre 11 “Chronomatic”, de 31 mm de diâmetro e 7,7 mm de altura. Mesmo em condições extremas, a sua precisão não estava longe da exigida aos cronómetros. (Nesta altura talvez seja conveniente explicar uma confusão frequente entre cronómetro e cronógrafo: o primeiro tem que obedecer a determinados requisitos de exactidão, mesmo em situações extremas; o segundo tem a função suplementar de medir tempos intermédios. Há cronómetros que não são cronógrafos e a maioria dos cronógrafos não exibe a qualidade de cronómetro certificado).
Mas voltemos à saga “99”, considerada como um dos projectos industriais mais secretos que alguma vez ocorreu no sector relojoeiro. O acordo entre os parceiros estipulava que, depois de conseguido o calibre, cada um ia à sua vida. A Heuer lançou-se na batalha comercial com três modelos diferentes, o Autavia (“para aqueles a quem a vida e o gosto de aventura são apenas e só uma realidade”, o Carrera (mais elegante, integrando uma escala taquimétrica que permitia a medição de velocidades médias) e o Monaco (o modelo mais avant-gard, equipado com a primeira caixa quadrada estanque). Em todos os modelos, a coroa estava situada no lado esquerdo da caixa. No mostrador, a inscrição “Chronomatic” vai figurar até 1970, seguindo-se depois “Automatic Chronograph”.
Quanto à Zenith, iria lançar pouco depois o mítico El Primero. Seria o primeiro cronógrafo automático capaz de medir intervalos de tempo até um décimo de segundo. Desenvolvido em 1969, e com o nome em Esperanto, pretendendo assim traduzir um espírito universalista, este calibre, que continua hoje em produção, tem como característica principal uma frequência de 36.000 alternâncias por hora. A sua exactidão permitiu-lhe, desde o início, passar nos testes de cronometria do COSC (autoridade suíça independente de controlo de cronómetros, que emite um certificado com o mesmo nome).
Quanto a um dos mais famosos cronógrafos do mundo, o Rolex Cosmograph Daytona, lançado em 1961, apenas em 1988 passaria a ter um calibre automático (exactamente o El Primero, da Zenith), e a partir de 2000 um da própria Rolex.
Há 40 anos, para além da preocupação com um cronógrafo automático, as grandes manufacturas tentavam melhorar a estanquicidade dos seus relógios. Enquanto a Rolex lançava em 1968 uma série de variações automáticas dos seus modelos Oyster Perpetual, a Jaeger-LeCoultre apresentava no mesmo ano o Memovox Polaris, relógio de mergulho cujo design inspiraria em 2002 a linha Master Compressor (e que teve este ano uma reedição histórica).
Chegariam estes esforços da micro-mecânica para fazer sobreviver um sector “ameaçado” pelo quartzo? Os relógios mecânicos quase iam morrendo; a Suíça, tradicionalmente na vanguarda, deixou-se ultrapassar pela ofensiva nipónica. Mas, desde há aproximadamente 20 anos, assistiu-se ao regresso do mecânico, gloriosamente e em força, de novo com a Suíça a comandar. Mas, de 1968 a 1988, foram vinte anos muito difíceis… se não, vejamos:
Há precisamente 40 anos, o cantão suíço de Neuchâtel recebia de volta, e em festa, o seu mais ilustre “cidadão”, o relógio atómico “Oscilatom”, fabricado pela principal empresa de então no sector, a Ebauches S.A., em colaboração com o Laboratório Suíço de Investigação Relojoeira, sediado na região.
O Oscilatom tinha partido no ano anterior, para uma viagem à volta do mundo “em oito milhões de segundos”, num périplo que o levou a Paris, Nova Iorque, Greenbelt (NASA), Washington, Otava, Montreal (onde decorria uma Exposição Mundial), Hong Kong, Singapura, Tóquio, Manila e, finalmente, de regresso a Neuchâtel.
O Oscilatom era, à altura, o mais preciso relógio do mundo, um exemplar atómico que levava consigo a célebre Hora do Observatório Astronómico de Neuchâtel, e que ia sendo comparada com relógios atómicos seus pares.
Tratado como um verdadeiro passageiro VIP, o Oscilatom fez a sua volta ao mundo a bordo de aviões da Swissair (recentemente desaparecida), que lhe reservava sempre dois lugares.
Com esta iniciativa, a Suíça pretendia demonstrar ao mundo que continuava na vanguarda da medição do tempo, posição praticamente incontestada em que se encontrava desde meados do século XIX, destronando a pouco e pouco as duas anteriores potências do Tempo, a Inglaterra e a França. Mas os tempos estavam a mudar…
No 28º Salão de “Relógios e Jóias” de Genebra, noticiava em 1968 a revista “Belora”, a tendência era para “o relógio grande, até mesmo quase gigante”, na forma predominava “o oval ou o quadrado arqueado”, nos mostradores, as cores dominantes eram o azul ou o cinzento. Mas a grande feira do sector era a que se realizava em Basileia, que em 1968 ia na sua 38ª edição e que hoje continua a liderar à escala global, agora com o nome de Baselworld.
A Suíça, que em 1968 detinha cerca de metade da produção mundial, em termos de valor, era de longe o maior fabricante e exportador, com as suas marcas a serem as de maior prestígio. A seguir, vinham a União Soviética (onde a indústria de relojoaria fazia parte do estratégico e secreto Complexo Industrial Militar), o Japão e os Estados Unidos, que em conjunto representavam 35 por cento da produção mundial. Mas, enquanto a Suíça exportava praticamente tudo o que produzia, os outros três consumiam praticamente todos os relógios que fabricavam. Mesmo assim, um país despontava no horizonte como exportador, o Japão, que já tinha à sua conta 6 por cento do mercado.
O “Jornal Português de Economia e Finanças” fazia numa das suas edições de 1968 uma análise do sector relojoeiro mundial, fazendo notar a onda de fusões a que se estava a assistir no tecido empresarial helvético, de que a concentração Movado/Zenith era o exemplo mais recente.
Tudo isto porque já apareciam nuvens no horizonte – falta de liquidez, concorrência nipónica em relógios baratos e em métodos de produção inovadores. Todo este fenómeno de adaptação da indústria iria ter como pano de fundo o relógio de quartzo. Uma história que já tinha alguns anos, mas que estava agora finalmente a chegar à boca de cena, ao consumidor final.
O cristal de quartzo é usado em relojoaria devido às suas propriedades piezoeléctricas. O efeito piezoeléctrico foi descoberto em França, em 1880, pelos Curie. Bombardeado um cristal de quartzo por uma carga de uma determinada frequência, ele vibra de forma constante, podendo assim ser usado como órgão oscilador (em vez do pêndulo ou do balanço-espiral empregues na relojoaria mecânica), dando uma precisão muito superior ao relógio.
Em finais de 1949, a Ebauches S.A. tinha criado um departamento a que deu o nome de Oscilo-quartzo, dando continuidade a trabalhos de investigação levados a cabo pelo Professor E. Baumannn na Escola Politécnica Federal, com o apoio da empresa.
No ano anterior, tinha aparecido na exposição marcando o 100º aniversário da República e Cantão de Neuchâtel o primeiro relógio de quartzo de fabricação suíça e um dos primeiros fabricados na Europa. Esse relógio foi posto ao serviço do Observatório de Neuchâtel e um outro exemplar semelhante foi fornecido aos Correios e Telégrafos Suíços, destinado à sua estação de recepção e medição de Châtonnnaye (Friburgo).
A Ebauches S. A. produzia anualmente mais de 41 milhões de “ébauches” (movimentos ou calibres base, por acabar), fornecendo só por si mais de 60 por cento das necessidades do mercado suíço de relojoaria e mais de 30 por cento do mercado mundial.
Em 1961 a Ebauches S. A. deposita no Observatório de Neuchâtel o seu primeiro cronómetro de marinha, de quartzo. A miniaturização avançava.
Em 1966, aparecem os protótipos de pulso Beta 1, da Ebauches S. A., e o X-8, da Seiko. Nesse ano, Eiichi Yamada, o presidente da Seiko (segundo maior fabricante nipónico, atrás da Citizen), previa que o Japão seria, dentro de cinco anos, o maior fabricante mundial de relógios. Iria acertar. Há 40 anos, fabricavam-se cerca de 135 milhões de relógios no mundo, dos quais 52,5 milhões na Suíça.
Em 1967, o Centre Electronique Horloger (CEH), de Neuchâtel, desenvolvia aquilo que se considera ser o primeiro movimento de quartzo para relógio de pulso comercial, o célebre Beta 21. Na mesma altura, no Japão, a Seiko desenvolvia o mesmo projecto, e ainda hoje se discute a primazia na invenção de um objecto que iria transformar radicalmente a realidade da indústria relojoeira mundial.
De qualquer modo, em finais de 1969, a Seiko lançava no mercado o Astron 355Q, enquanto o Beta 21 tardava em aparecer ao público, pelo menos em quantidades suficientes e a preços competitivos para um consumidor sedento de relógios mais fiáveis e mais baratos (começou a ser comercializado em 1970, nos Estados Unidos, sob a marca Pulsar, e apenas mil exemplares).
De qualquer modo, no filme “Vive e Deixa Morrer”, nesse mesmo ano, o agente secreto britânico James Bond, 007, ostenta no pulso um Beta 21, cujo ecrã de diodos electroluminescentes se activa mediante o carregar de um botão. Os espectadores murmuram de admiração, a pilha sofre uma descarga imensa… mas, mesmo assim, terá sido a última e efémera vitória do quartzo suíço face ao “inimigo” nipónico.
A guerra dos relógios de quartzo passava há 40 anos pelos concursos de cronometria, sendo os mais famosos os realizados nos observatórios de Neuchâtel ou de Besançon (França). Há 40 anos, os helvéticos cilindravam os nipónicos, obtendo os dez primeiros lugares em termos de precisão. Mas isso não chegaria para vencer as próximas batalhas, nem muito menos a guerra…
Num dos seus números de 1968, a revista Europa Star, um título que ainda hoje existe e que é um dos mais respeitados entre os da imprensa relojoeira especializada, publicava um artigo de um tal J. Hanhart, onde se vaticinava que os movimentos electrónicos iriam, num futuro mais ou menos breve, suplantar os movimentos mecânicos.
As primeiras tentativas de colocar no pulso um relógio electrónico fizeram-se nessa época com o revolucionário Acutron, da Bulova. Tratava-se de um relógio eléctrico, movido a pilha, e onde o órgão oscilatório era um diapasão. Esse relógio, extremamente preciso, se comparado com os relógios mecânicos, não chegaria a vingar – pelo preço, elevado, e pela chegada maciça dos relógios de quartzo.
Rémy Chopard, engenheiro da Ebauches S. A. escrevia em 1968 um artigo interessante, interrogando-se sobre os resultados obtidos pelos relógios de pulso que iam a concurso nos observatórios, autênticos protótipos. Seria que essas iniciativas teriam qualquer valor do ponto de vista industrial?
Ele fazia o paralelo com a indústria automóvel, onde os desenvolvimentos nos carros de competição chegavam, mais cedo ou mais tarde, aos carros de série. “É necessária uma grande precisão para um relógio corrente?”, interrogava-se o técnico. “É frequente ouvir observações como esta: ‘para mim, o segundo não tem interesse, basta que o meu relógio esteja certo ao minuto’”.
Mas, talvez, quem faz tal observação se queixe ao seu relojoeiro, dizendo que o seu relógio já não está certo ao fim de um mês de marcha, “esquecendo-se que um minuto por mês não representa mais do que uma variação de dois segundos por dia”, sublinhava.
E prosseguia, agora claramente na defesa do relógio do quartzo: “Se se disser ‘o vosso relógio não variará mais de 0,15 de segundo por dia’, não haverá qualquer reacção contra este elemento de precisão; mas se, pelo contrário, se disser: ‘não será preciso acertar o vosso relógio electrónico senão uma vez por ano, quando se mudar a pilha, e durante esse lapso de tempo ele não variará mais de um minuto’, esse relógio terá, certamente, um grande êxito; e, contudo, a precisão exigida é a mesma”.
A revolução do quartzo foi tão grande que, em 1968, o Observatório de Neuchâtel suspendeu os concursos de precisão para relógios de pulso. Os relógios de quartzo tinham batido no ano anterior todos os recordes, obtendo classificações de precisão 12 vezes superiores aos melhores mecânicos e 6 vezes superiores aos tipo Acutron (com oscilador eléctrico, de diapasão). Dizem as más línguas que os concursos de precisão foram suspensos quando os suíços viram que os japoneses iriam passar a ganhar tudo…
Depois, foi o descalabro. A indústria suíça foi caindo no declínio, mercê da feroz competição japonesa, que fornecia os mercados com milhões de relógios de pulso baratos, fiáveis. As falências iriam suceder-se, o desemprego afectaria dezenas de milhares de operários especializados, a agonia iria prolongar-se, adivinhando os observadores uma morte final. Só que vinha aí um fenómeno helvético, também ele baseado na tecnologia do quartzo e, há precisamente 25 anos, a indústria suíça de relojoaria começaria a dar os primeiros passos para um renascimento, qual Fénix mecânica. Mas isso já é outra história.
Geração quartzo
Há 40 anos, manifestações estudantis ocorriam no México, na Polónia, na Jugoslávia, na Alemanha. Maio, em França, tinha feito com que os sonhos se soltassem debaixo das pedras da calçada. A Primavera de Praga iria ser esmagada pelos tanques do Pacto de Varsóvia, comandados por Moscovo e com o apoio expresso do Partido Comunista Português, Robert Kennedy e Martin Luther King eram assassinados. O mundo estava em brasa.
Em Portugal, o ano de 1968 começava também com manifestações estudantis, em Lisboa e no Porto, contra a presença norte-americana no Vietname e contra a guerra colonial que Lisboa mantinha em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Mário Soares era preso e deportado para São Tomé e Príncipe, Salazar comemorava em Abril 40 anos no poder, mas em Agosto caía da cadeira e, com o seu estado de saúde a agravar-se, é substituído em Setembro à frente do Governo por Marcello Caetano.
Nesse ano, dá-se num país parado, isolado, pacóvio e pobre um evento de que ainda hoje se fala: Antenor Patiño, magnata do estanho, organizou uma festa na sua quinta em Colares, para a qual convidou “a fina flor da alta sociedade internacional”. Portugal ficou de boca aberta perante tanta gente rica e bonita.
Na fugaz Primavera Marcelista, Mário Soares é autorizado a regressar, mas o ano termina com vigílias de católicos contra a política africana do Governo e com o encerramento do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, por o regime o considerar como local de subversão. A Academia de Lisboa decretava o luto académico.
E em termos de relojoaria, o que se passava em Portugal há 40 anos? Desde logo, a importação e o retalho debatiam-se com um problema endémico, provocado por fronteiras fechadas e direitos aduaneiros demasiado elevados: o contrabando. O país estava inundado de relógios de pulso Cauny, uma marca que nunca chegou sequer a ter representação oficial.
Depois, o sector debatia-se com outro mal endémico: a falta de formação profissional. A Escola de Relojoaria da Casa Pia, que tinha sido fundada em 1894 mas que nunca funcionara regularmente, estava aberta desde 1950 sob direcção de mestres suíços, mediante um acordo entre Portugal e a Indústria Relojoeira Helvética. Em 1968, ela era dirigida pelo mestre suíço Jean-Pierre Delay, que ia fazendo o que podia, formando relojoeiros e dando cursos de formação por todo o país.
A Belora, título especializado que se manteve décadas sozinho no mercado, falava em 1968 da guerra que houve quando os relojoeiros foram incluídos no Regulamento de Carteira Profissional dos Oficiais de Ourives e Ofícios Correlativos. Apesar dos protestos, os relojoeiros não conseguiram uma Carteira Profissional à parte.
Um ano antes tinha decorrido em Lisboa, no Hotel Ritz, uma “Jornada do Relógio Francês”, e onde esteve exposto “o relógio mais complicado do mundo”, o exemplar de bolso L1, da firma Le Roy, uma encomenda do milionário português Carvalho Monteiro, peça que hoje se encontra no Museu do Tempo, em Besançon.
No mercado nacional, onde os relógios de bolso estavam a desaparecer rapidamente do uso quotidiano – as “cebolas” – o relógio de pulso começava a chegar a camadas mais desfavorecidas da população, mas apenas os tais exemplares de contrabando, e numa altura em que um relógio ainda era um investimento de vulto, para ser estimado e usado toda a vida, e deixado em herança…
Os relógios de quartzo ainda não tinham aparecido em 1968 no mercado nacional, havia apenas exemplares de corda manual (os relojoeiros queixavam-se dos maus tratos do utilizador luso, que partia cordas atrás de cordas, talvez por excesso de força), automáticos (demasiado caros para o comum dos cidadãos), alguns electrónicos, tipo Bulova Acutron.
Para fintar a Alfândega, importadores compravam calibres na Suíça e fabricavam em Portugal caixas em ouro para esses movimentos, pois os direitos aduaneiros para metais preciosos eram proibitivos.
Em artigo publicado em 1969, a Belora perguntava: “Vai aparecer no mercado o relógio de pulso de quartzo?”. Ia, de facto, aparecer, e em força. Conseguindo colocar relógios no pulso de gente que nunca julgara ter dinheiro para isso. Era a democratização do tempo, mesmo em Portugal.
Para saber mais:
História do Tempo em Portugal – Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal, Diamantouro, Porto, 2003
Cronologia do Tempo em Portugal, Lagonda, Lisboa, 2004
Dicionário de Relojoaria, o Universo do Tempo e dos seus Medidores, Âncora, Lisboa, 2007
Heuer & TAG Heuer, La Maitrise du Temps, Editions Assouline, Paris, 1997
Jaeger-LeCoultre, La Grand Maison, Editions Flammarion, Paris, 2006
*Jornalista e investigador do Tempo (artigo saído na revista Espiral)
Na marcha para o futuro
ResponderEliminara indústria relojoeira
põe toda a sua canseira
em remover qualquer muro!
JCN