As peças mais antigas em exposição datam de 1874 – são chatelaines, relógio de senhora, de usar ao peito, e as mais modernas são relógios contemporâneos, demonstrativos da capacidade relojoeira da Maison, que até hoje tinha realizado mostras do seu savoir-faire, mas muito mais baseado no seu também riquíssimo passado joalheiro.
Resumindo, são mais de cem anos de história relojoeira, visitando peças que combinam geralmente materiais preciosos com mecanismos sofisticados e altamente complicados, com funções muito para além da indicação das horas, dos minutos e dos segundos.
A casa conhecida como “joalheiro de reis, rei dos joalheiros” foi fundada em 1847, mas desde 1853 que fabrica medidores do tempo, primeiro em jóias, para senhora, depois, logo no início do século XX, também em relógios de bolso e de pulso, para homem. E claro, durante todo esse tempo, realizando encomendas especiais, tanto nesse tipo de relojoaria como em peças de mesa.
A Cartier tem uma longa história no desenvolvimento de relógios de pulso. Não foi ela que inventou os primeiros relógios de pulso para homem – embora esse mito continue a circular na Internet – mas foi das primeiras a fazê-lo. Desde logo devido a essa encomenda lendária que o dandy brasileiro Santos Dummond, a viver em Paris, fez a Louis Cartier, seu amigo. Pioneiro da aviação, Santos Dummond pediu-lhe um relógio que ele pudesse usar no pulso, forma mais prática de consultar, enquanto em voo, e para efeitos de navegação. Em 1904 nascia assim um relógio que se destinou ao brasileiro mas que, em 1911, passou a ser comercializado, ganhando o nome de Santos. Trata-se possivelmente do mais antigo modelo de relojoaria ainda a ser comercializado, mais de sem anos depois de ter tomado forma. Há alguns exemplares dos primeiros Santos na exposição.
Ao todo, são 158 pelas históricas, saídas do Museu Cartier, actualmente o maior acervo de peças Cartier no mundo (a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tem alguns exemplares raros e valiosos, tendo sido o local de uma importante exposição Cartier, há cinco anos).
De salientar o conjunto de 12 relógios misteriosos, peças de um valor muito elevado quando chegam aos leilões, mas também modelos primitivos das linhas Tonneau (iniciada em 1906), Tortue (1912), Tank (1919), Baignoire (1956), Crash (1967), Pasha (1985), e mais recdentes, Ballon Bleu (2008) e Calibre (2010), entre outros.
A exposição está dividida em duas partes. No rés-do-chão, as peças históricas. No primeiro piso, e numa apresentação extraordinária, em vitrinas multimédia e a 3D, estão destacadas 18 peças contemporâneas, todas elas equipadas com calibres fabricados in house. Numa sala à parte, o ID One, um concept watch que a Cartier concebeu há dois anos e que não necessita de regulação depois de ser fabricado – não usa óleos para lubrificação, tem materiais atérmicos e amagnéticos, a poeira não entra na caixa.
Nos últimos seis anos, a Cartier tem desenvolvido um esforço enorme para restabelecer a legitimidade relojoeira que teve em tempos. Sob a direcção de Carole Forestier, desenvolveu 12 calibres próprios, com complicações que incluem Zonas Horárias, Fases de Lua, Cronógrafo e Cronógrafo Rattrapante, Calendário Perpétuo e Repetição Minutos. São peças da linha Cartier Fine Watchmaking Collectons, algumas com calibres esqueletizados. O nosso preferido, o Astrorégulateur, que tem órgãos reguladores(escape e balanço-espiral) no balanço do calibre automático. Assim, consegue anular o efeito da gravidade no comportamento do movimento, uma aproximação inédita, que até agora era realizada com o turbilhão.
A exposição Cartier Time Art está patente até 6 de Novembro no Museum Bellerive de Zurique, seguindo depois para uma digressão mundial.
Juan Antonio (Maquinas del tiempo), Ricardo Balbontin (Tiempo de Relojes e Gentleman) e Paloma Recio (Relojes y Estilograficas), de Espanha
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