terça-feira, 12 de julho de 2011

Meditações - Fundano, coleccionador de relógios

Tem relógios, tem pêndulas Fundano
Em paredes, em mesas e algibeiras;
Mas tão vários de molde, tão sem conto,
Que lóge não verás de Relogioeiro
Tão bem sortida.

Tem pelas quatro, cinco ou seis fachadas
Das casas, mil primores da Gnomónica.
E o Sol, desde que nasce: até que morre,
Pelas linhas lhe aponta, enfiando o olho
Da chapeleta, as horas, meias horas.
E os curtos quartos,
Sem que lhe escape o mínimo minuto.

Vê-lo-ás dar corda, todo o santo dia;
Ora avançar ponteiro, ora atrazá-lo.

Por que andem justos,
uns c'os outros os pobres dos Relógios,
De ponteiro em ponteiro anda e desanda:
Tal lida, bem o vês, há-de atentá-lo.

Outros, no andar, bem podem desbancá-lo,
Mas ninguém melhor sabe às quantas anda.

Filinto Elysio (1734 - 1819), nome arcádico do padre Francisco Manuel do Nascimento

Contribuição de Paulino Mota Tavares

3 comentários:

  1. Para saber ao certo às quantas ando,
    as horas não preciso de saber,
    bastando-me enxergar, de quando em quando,
    o sol antes de o astro se esconder!

    JCN

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  2. Antes de relógio haver,
    já sabia o ser humano,
    sem qualquer margem de engano,
    quais as horas de comer!

    JCN

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  3. O macaco não precisa
    de cronómetro nenhum,
    pois que a barriga o avisa
    de que se encontra em jejum!

    JCN

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