António Sardinha (1887 - 1925), político e poeta português
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Meditações - nascido no seu tempo
Não tardará talvez uma hora que na torre da catedral, minha vizinha, o relógio anuncie pausadamente a entrada do Ano Novo. À orla de 1920, eu quero lembrar esse 1919 que vai desaparecer, deixando de si um rasto de ruínas e sangue, onde, por braço da Morte, se passeia a Esperança, - a boa semeadora infatigável. Como nunca, a dois passos da terra ancestral da Pátria, eu sinto a tortura indefinível do exílio! Mas também, como nunca, eu sinto o facto universal do Cristianismo, fazendo-me, como membro vivo da Cidade de Deus, cidadão de todo o mundo que reconheça e proclame Cristo. Sofro, bem o sei. No entanto, quando na catedral o relógio disser que mais um ano morreu, a minha fé procurará as palavras vitoriosas do Te-Deum, para exprimir a minha alegria infinita de haver nascido no tempo em que nasci!
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