domingo, 26 de dezembro de 2010

Meditações - tic-tac nocturno

O som do relógio

O som do relógio
Tem a alma por fora,
Só ele é a noite
E a noite se ignora.

Não sei que distância
Vai de som a som
Pegando, no tique.
Do taque do tom.

Mas oiço de noite
A sua presença
Sem ter onde acoite
Meu ser sem ser.

Parece dizer
Sempre a mesma coisa

Como o que se senta
E se não repousa

Fernando Pessoa (1888 - 1935)

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