quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Meditações - tempo de exposição

Ao tempo da sucessão, à duração filosoficamente considerada como uma sequência de instantes sem duração, a exemplo da linha concebida geometricamente como uma sucessão de pontos sem dimensão, será conveniente opor, desde agora, a noção do tempo de exposição. Do tempo que passa da cronologia ao tempo que se expõe da cronoscopia, seríamos, então, levados a conceber o conjunto dos procedimentos de ocultação da “tomada de tempo”. Ao antigo movimento do pêndulo, à oscilação dos mecanismos de relojoaria, sucederia então o movimento do obturador; a câmara e o seu monitor tornando-se um “relógio de precisão”, um modelo de relógio de luz infinitamente superior ao quadrante solar.

Ao antigo sistema de passagem linear do tempo – passado-presente-futuro – deveria pois suceder legitimamente o sistema subexposto-exposto-superexposto, contribuindo assim para realçar a noção de temporalidade. Com isso, seríamos em seguida levados a revisar o estatuto das diferentes grandezas físicas: não apenas a hora, a semana, o mês das efemérides, o metro ou o quilometro das distâncias geográficas, mas ainda a alternância da luz e da sua ausência. Não somente a alternância diruno/noturno do dia solar, primeira medida do tempo, mas ainda o conjunto dos processos fisiológicos (sono, coma, cegueira...) e tecnológicos que fracionam a duração. Dia químico do gás, das velas e das tochas; dia elétrico, depois electrónico, das lâmpadas, dos tubos, das telas e dos painéis.

Paul Virillo, sociólogo francês contemporâneo

Sem comentários:

Enviar um comentário