quinta-feira, 15 de julho de 2010

Meditações - da aurora e da madrugada

Post-Scruptum

Agora regresso à tua claridade.
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limites na espessura
da noite cheirando a madrugada.

Acordaste na aurora - a boca rumorosa
de um desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.

Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem!, e mais que jovem, sem mágoa!,
como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.

Eugénio de Andrade
(1923 - 2005)

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