segunda-feira, 15 de março de 2010

Memória - Swiss Made*

O processo de discussão, reavaliação e possível alteração das regras de um dos mais conhecidos e respeitados símbolos de qualidade a nível mundial conheceu uma nova fase. Depois de alguns sectores da indústria terem reclamado regras mais rigorosas para os critérios do conceito do Swiss Made em relojoaria (ver A Máquina do Tempo, Casual, 08/06/07), a Assembleia-geral da Fédération Horlogère helvética aprovou o envio da nova proposta para o Conselho Federal, que agora a vai analisar.

Ter num relógio a marca Swiss Made foi durante décadas um elemento de grande valor ao olhos do consumidor em todo o mundo, mas a globalização das economias e o uso de matérias-primas e materiais acabados importados têm, segundo a própria indústria suíça, deteriorado o conceito.

A indústria suíça de relojoaria representa mais de 13 mil milhões de Francos suíços em exportações, o que faz dela a terceira no país, mas importa produtos no valor de mais de 1,5 mil milhões.

O que o sector relojoeiro propõe agora aos políticos apreciar é um conjunto de novas regras: os critérios passam a ser em valor – pelo menos 80 por cento dos custos de produção dos relógios mecânicos devem ser atribuídos a operações realizadas na Suíça (até agora, o critério era em número de peças, pelo menos 50 por cento de origem suíça). Para os outros relógios, particularmente os de quartzo, terá que ser pelo menos 60 por cento do valor. As matérias-primas, as pedras preciosas e as baterias seriam excluídas dos cálculos para os custos de produção. Para os movimentos mecânicos, propõe-se aumentar dos actuais 50 por cento para 80 por cento do valor de todos os seus componentes, e para os movimentos de quartzo, para 60 por cento.

O movimento para a revisão das regras Swiss Made partiu dos grandes grupos relojoeiros, que se encontram actualmente num esforço de verticalização, em busca da total independência. E a chamada Alta Relojoaria, que não tem que se preocupar muito com o preço final, está igualmente interessada em limitar os critérios deste selo de origem. Por estranho que pareça, até as marcas que vendem relógios baratos, especialmente os de quartzo, podem beneficiar com o que é proposto, já que utilizam componentes, como caixas ou mostradores de fraca qualidade e feitos na Ásia a preços incrivelmente baixos, mas usam um calibre feito na Suíça, de longe o componente mais caro.

O problema de cumprimentos do novo Swiss Made parece estar nas marcas independentes, especialmente naquelas que têm relógios mecânicos a preços médios. Aí, para conseguirem preços competitivos, elas têm até agora importado caixas, mostradores, ponteiros e outros componentes, mas de melhor qualidade. Com a imposição da regra dos 80 por cento em valor de incorporação, o novo Swiss Made poderia provocar, contraditoriamente, uma baixa da qualidade, com os fabricantes a procurarem fornecedores externos o mais baratos possível.

*Crónica A Máquina do Tempo, publicada no suplemento Casual, Semanário Económico de 22/07/07 (O debate sobre as novas regras do Swiss Made continua, como Estação Cronográfica tem referido regularmente, e uma decisão deverá estar para breve)

Sem comentários:

Enviar um comentário