segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O "pai "do relógio de quartzo

Estação Cronográfica esteve recentemente no Japão, a convite da Seiko, e almoçou com Tsuneya Nakamura, o “pai” do relógio de quartzo.

O casal Pierre e Marie Curie já tinha descoberto, na década de 80 do séc. XIX, as propriedades piezoeléctricas de um cristal de quartzo: sujeito a uma corrente eléctrica, vibra a uma frequência constante. Desde essa altura se pensou em utilizar essa característica na medição do tempo. Na verdade, relógios usando quartzo no órgão oscilatório foram construídos na década de 40 do séc. passado, mas eram enormes, faltava resolver o problema da miniaturização e da alimentação.

Em 1963, Tsumeya Nakamura torna-se director da fábrica da Seiko em Suwa, na perfeitura de Nagano. Sob a sua direcção, o Projecto Quartzo tornou-se numa obsessão e foi nas suas instalações de Pesquisa e Desenvolvimento que muitos dos avanços determinantes foram feitos. A forma em diapasão do cristal de quartzo, por exemplo, que depois se tornaria comum para toda a indústria.

Na preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, a Seiko decidiu dar um passo gigantesco com a criação do QC-951, o primeiro instrumento portátil de medição do tempo usando o cristal de quartzo como oscilador. O então Presidente da Seiko, Shoji Hattori, perdeu a paciência. Em 1968, ele emitiu uma agora famosa ordem: “Um relógio de pulso Seiko, de quartzo, deve estar no mercado dentro de um ano”. Foi reunida uma nova equipa de engenheiros e, sob a direcção de Nakamura, o prazo foi cumprido. O lendário Quartz Astron foi lançado no mercado no dia de Natal de 1969.

(A controvérsia continua hoje sobre quem inventou o primeiro relógio de pulso de quartzo. É que, em 1967, o Centre Electronique Horloger (CEH), em Neuchâtel, Suíça, desenvolveu um protótipo, o famoso Beta 21. Ele era, na verdade, o primeiro relógio de pulso de quartzo, mas tardou em passar à fase de comercialização e os suíços pagaram caro por isso, como se sabe. Polémicas à parte, a Seiko ganhou a corrida para colocar no pulso do homem comum relógios muito mais exactos que os mecânicos e a um preço cada vez mais barato).

Nakamura é hoje Conselheiro Executivo Honorário da Seiko e estivemos com ele na singela celebração dos 40 anos do Astron. Aproveitámos a ocasião para fazer uma pergunta ao “pai” do relógio de pulso de quartzo: qual a leitura de tempo que prefere, a digital ou a analógica? É que os relógios de quartzo tinham massificado a leitura digital, nos primeiros anos de vida.

“A leitura digital é mais precisa, mas continuo a preferir a leitura analógica, pois o Tempo joga aqui com o Espaço, e isso é mais natural para o nosso cérebro”, respondeu. E, na verdade, embora ainda muita gente fale de “relógio digital” para referir um de quartzo, tanto estes como os mecânicos são hoje na sua esmagadora maioria apresentados com mostradores de leitura analógica (com ponteiros). É diferente ler, por exemplo, 13h45 ou “um quarto para as duas”. O quarto de hora que falta para a hora ganha vida analógica, “morre” na versão digital.

adaptado de Fora de Série Relógios de 17 de Outubro de 2009, suplemento do Económico

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