quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Jaeger-LeCoultre patrocina mostra em Paris sobre obra de Fellini
Federico Fellini
Cena de La Dolce Vita
“Tutto Fellini: Fellini, la Grande Parade” é o título da exposição que decorre no Jeu de Paume, na Place de la Concorde, em Paris, de 20 de Outubro a 17 de Janeiro. O evento é patrocinado pela manufactura relojoeira helvética Jaeger-LeCoultre.
A exposição completa-se com uma ampla retrospectiva dos filmes do realizador italiano, na Filmoteca francesa, e com um ciclo de conferências a realizar no Instituto Italiano de Cultura de Paris.
Desde 2006 que a Jaeger-LeCoultre mantém um programa de mecenato cultural em associação com o Jeu de Paume, com o objectivo de projectar a cultura fotográfica e cinematrográfica.
"Federico Fellini, la Grande Parade" é comissariada por Sam Stourdzé. A busca das raízes criativas de Fellini é o âmago da exposição, que mostrará excertos de filmes, documentos fotográficos, capas de revistas, imagens de televisão e o trabalho de outros artistas.
Numa perspectiva multidisciplinar, serão recordados os eventos e factos históricos, a História ou as anedotas populares, o biográfico ou os elementos de ficção que constituíram a matéria-prima específica dos seus diálogos ou ambientes visuais. Desenhos e fotografias do próprio Fellini estarão também presentes, ao lado de cartazes originais dos seus filmes.
Em primeira mão - Jovial quer entrar no mercado português
É no ano em que comemora 80 anos que a marca Jovial pretende estabelecer-se pela primeira vez no mercado nacional, estando à procura de um importador interessado. Os primeiros contactos já foram feitos, na edição 2009 da Portojóia.
Fundada em 1929 pelo suíço Fernand Droz, em La Chaux-de-Fonds, a Jovial mudou em 1946 o seu centro de produção para Bienne (Biel).
Em 1988, o empresário Mohamed Dabaan comprou a marca, desenvolvendo tremendamente a sua presença no Médio Oriente, mercado que representa hoje três quartos da produção anual da Jovial.
Além de relógios, 65 mil peças por ano, a Jovial produz também perfumes, gravatas, óculos e marroquinaria.
Louis Vuitton - CEO relógios em Lisboa, para mostrar peças de excepção
Albert Bensoussan
Na linha Tambour, realce para o Mystérieuse, um turbilhão em caixa de ouro amarelo, rosa ou branco ou platina, de 42,55 mm. O calibre, totalmente fabricado à mão nos ateliers da Louis Vuitton em La Chaux-de-Fonds, na Suíça, faz a indicação do tempo por discos de safira, transparentes, produzindo um efeito misterioso em relação a todo o movimento, no total de 115 peças. Tem uma autonomia de 8 dias e 8 horas e indicador de reserva de corda. Modelos femininos e masculinos, com ou sem pedras preciosas.
Meditações - a espera
Sem espera, as pessoas ficam apáticas. Quem já não pode esperar mais, pode também não conseguir perceber o mistério do tempo. O tempo é sempre uma promessa do eterno.
Anselm Grün, OSB (1945, Junkershausen, Alemanha), in Ao Ritmo do Tempo dos Monges
Anselm Grün, OSB (1945, Junkershausen, Alemanha), in Ao Ritmo do Tempo dos Monges
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Salão "Belles Montres" dedicado à terra, mar e ar
A Alta Relojoaria terrestre, aeronáutica e marítima está exposta em Paris, no "Belles Montres", Salão Internacional de Relojoaria de Prestígio, na sua terceira edição, de 27 a 29 de Novembro, no Carrousel du Louvre.
Começam então as grandes descobertas. Poder medir a longitude num navio, no mar, com a ajuda de um relógio preciso, torna-se no desafio de todos os relojoeiros. Um primeiro passo foi dado por Huygens, considerado o pai da relojoaria de precisão.
Em homenagem a esta riqueza relojoeira, a FHH organiza a exposição, constituída por mais de 80 relógios de bolso e de pulso, desde as origens até aos nossos dias. As peças são provenientes do próprio acervo da FHH e das suas marcas membros; do Musée International d’Horlogerie, la-Chaux-de-Fonds; das Colecções de relojoaria e esmaltes do Musée d’art et d’histoire de Genève; do Musée d’Horlogerie du Locle, Château-des-Monts; e do Musée d’Horlogerie Beyer, Zurich.
Por ocasião da exposição, a Fondation de la Haute Horlogerie (FHH) organiza uma exposição dedicada ao tema "A Alta Relojoaria terrestre, aeronáutica e marítima", que traça a adaptação tecnológica dos relógios às diferentes circunstâncias de utilização.
Em terra, primeiro os relógios de sol portáteis, e depois os relógios mecânicos, acompanharam os viajantes nas suas deslocações. No entanto, a imprecisão destes últimos não lhes permitia tornarem-se em instrumentos fiáveis de medição do tempo.
Começam então as grandes descobertas. Poder medir a longitude num navio, no mar, com a ajuda de um relógio preciso, torna-se no desafio de todos os relojoeiros. Um primeiro passo foi dado por Huygens, considerado o pai da relojoaria de precisão.
Mas são os mestres relojoeiros franceses e ingleses do século XVIII que, através dos seus trabalhos, acabarão por encontrar a solução que assegurará durante muito tempo a supremacia económica às potências marítimas da época.
No século XUX, os caminhos-de-ferro favorecem o uso do relógio e sobretudo conduzem à unificação internacional da hora, desde que o mundo fica dividido em 24 fusos horários.
Finalmente, no século XX, o avião adapta os progressos anteriores da relojoaria feita com os transportes marítimos, até ao momento em que, assim o obriga a velocidade, o tempo deixa de poder ser medido pela relojoaria mecânica, e passa a ser calculado por outros meios tecnológicos.
Em homenagem a esta riqueza relojoeira, a FHH organiza a exposição, constituída por mais de 80 relógios de bolso e de pulso, desde as origens até aos nossos dias. As peças são provenientes do próprio acervo da FHH e das suas marcas membros; do Musée International d’Horlogerie, la-Chaux-de-Fonds; das Colecções de relojoaria e esmaltes do Musée d’art et d’histoire de Genève; do Musée d’Horlogerie du Locle, Château-des-Monts; e do Musée d’Horlogerie Beyer, Zurich.
A parte histórica da exposição é completada por vinte peças contemporâneas apresentadas pelos parceiros da FHH: A. Lange & Söhne, Antoine Preziuso, Audemars Piguet, Baume et Mercier, Boucheron, Cartier, Chanel, Chopard, Corum, Daniel Roth, Fédération de l’industrie horlogère suisse, Gérald Genta, Greubel Forsey, Girard-Perregaux, Hermès, Hublot, IWC, Jaeger-LeCoultre, JeanRichard, Montblanc, Musée d’art et d’histoire de Genève - Musée d’Horlogerie Beyer, Zurich - Musée d’Horlogerie du Locle, Château-des-Monts - Musée International d’horlogerie, la Chaux-de-Fonds, Richard Mille, Montblanc, Panerai, Parmigiani, Perrelet, Piaget, Roger Dubuis, Vacheron Constantin, Van Cleef & Arpels, e Zénith.
Exposição "La Haute Horlogerie terrestre, aéronautique et maritime"
Catálogo bilingue francês-inglês ilustrado disponível
Catálogo bilingue francês-inglês ilustrado disponível
De 27 a 29 de Novembro - Carrousel du Louvre, Paris 1er –
Das 10H00 às 19h00 – Entrada : 10 €
Saiba mais em www.bellesmontres.fr
Saiba mais em www.bellesmontres.fr
Relógios Jaeger-LeCoultre - mestre na esmaltagem
As artes decorativas mais antigas e delicadas não têm segredo para a "Grande Maison" do Vallée de Joux. A esmaltagem, a gravação e o engaste de pedras preciosas são ofícios artísticos que requerem um grande virtuosismo, e que a Manufactura Jaeger-LeCoultre associa com equilíbrio às suas criações relojoeiras. A arte da miniatura em esmalte é uma tradução plena do amor ao pormenor.
Este ano, e mais uma vez, surgem relógios decorados com técnicas "esmalte grand feu" e "champlevé", realizadas inteiramente nos ateliers da manufactura. Alguns modelos de 2009 que realçam a capacidade técnica e artística da Jaeger-LeCoultre:
Há exactamente 120 anos - prémio para o turbilhão com três pontes em ouro, da Girard-Perregaux
Há precisamente 120 anos - a 29 de Setembro de 1889, Constant Girard-Perregaux estabeleceu a sua reputação com o famoso Turbilhão com três pontes em ouro, um relógio de bolso que obteve a medalha de ouro na Exposição Universal de Paris.
Desde 1860 que Constant Girard, relojoeiro visionário, se tinha interessado em elementos desprezados pelos seus colegas. Um longo trabalho de pesquisa permitiu-lhe desenvolver a sua obra-prima: um Turbilhão albergado por um calibre com uma arquitectura simétrica, sublime, e apoiado em três pontes em ouro, arqueadas, que ele patenteou em 1884.
O calibre deizou de ser um componente meramente técnico do relógio, passando a contribuir para a sua estética global. Os contemporâneos de Constant Girard-Perregaux ficaram tão impressionados que em 1901 o mestre relojoeiro foi impedido de concorrer a exposições internacionais, porque o seu Turbilhão era considerado impossível de bater.
Desde 1860 que Constant Girard, relojoeiro visionário, se tinha interessado em elementos desprezados pelos seus colegas. Um longo trabalho de pesquisa permitiu-lhe desenvolver a sua obra-prima: um Turbilhão albergado por um calibre com uma arquitectura simétrica, sublime, e apoiado em três pontes em ouro, arqueadas, que ele patenteou em 1884.
O calibre deizou de ser um componente meramente técnico do relógio, passando a contribuir para a sua estética global. Os contemporâneos de Constant Girard-Perregaux ficaram tão impressionados que em 1901 o mestre relojoeiro foi impedido de concorrer a exposições internacionais, porque o seu Turbilhão era considerado impossível de bater.
Meditações - viver para morrer
Para além dos ciclos dos corpos celestes que os homens do Tempo de Deus usaram como relógio, parece existir um ritmo próprio da vida, relógio absoluto da Vida e da Morte. Para além da cronobiologia começa a nascer uma fascinante cronogenética (...)
Passados os 30 anos, a perca de capacidades funcionais é da ordem dos 8 por cento ao ano. Por outras palavras, depois dos 30 anos, a probabilidade de morrer duplica todos os 8 anos.
Jacques Attali, in Histoires du Temps (1982)
Passados os 30 anos, a perca de capacidades funcionais é da ordem dos 8 por cento ao ano. Por outras palavras, depois dos 30 anos, a probabilidade de morrer duplica todos os 8 anos.
Jacques Attali, in Histoires du Temps (1982)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Memória - primórdios da portabilidade do tempo*
A “privatização” do tempo e a sua verdadeira “portabilidade” só ocorrem quando, no início do século XVI, um relojoeiro alemão, da Floresta Negra, Peter Henlein, introduz uma forma revolucionária de força motriz no mecanismo – a corda enrolada em espiral. Até então, os relógios eram todos de grande tamanho, metidos em gaiolas de ferro, e extraíam a força para trabalhar através de pesos suspensos por cordas – quanto mais comprida a corda, maior a autonomia. Tratava-se de relógios suspensos em torres de igrejas, mosteiros, castelos, que “batiam” as horas, pois estavam geralmente ligados a sinos.
Com a miniaturização das máquinas do tempo permitida pela inovação de Enlein, uma classe burguesa europeia ascendente passa a orgulhar-se dos seus relógios “portáteis”, fosse eles de mesa, os chamados “Ovos de Nuremberga”, dada a sua forma e a origem de fabrico, ou de carruagem. Mas, tal como os de torre, apenas possuíam o ponteiro das horas, tal era a imprecisão dos mecanismos. O acto de “dar à corda” passava a ser agora executado através de uma chave, que permitia o enrolar de novo da mola. De qualquer modo, os relógios assumem-se a partir de então como objectos que conferiam estatuto a quem os possuía.
Há depois o maior grupo relojoeiro do mundo, o Grupo Swatch, do suíço-libanês Nikolas Hayek.
Baseado no sucesso do seu conceito Swatch, quando a indústria helvética da relojoaria mecânica estava moribunda, Hayek foi conseguindo, a partir dos anos 80 do século passado, capital para fazer a sua galáxia de marcas, que vão da Breguet à Omega, passando pelas Blancpain, Jaquet Droz, Longines ou Tissot. Todas elas estão a entrar na área da joalharia, com boutiques monomarca em países como o Japão.
Com a miniaturização das máquinas do tempo permitida pela inovação de Enlein, uma classe burguesa europeia ascendente passa a orgulhar-se dos seus relógios “portáteis”, fosse eles de mesa, os chamados “Ovos de Nuremberga”, dada a sua forma e a origem de fabrico, ou de carruagem. Mas, tal como os de torre, apenas possuíam o ponteiro das horas, tal era a imprecisão dos mecanismos. O acto de “dar à corda” passava a ser agora executado através de uma chave, que permitia o enrolar de novo da mola. De qualquer modo, os relógios assumem-se a partir de então como objectos que conferiam estatuto a quem os possuía.
Os relógios de bolso, a partir de dada altura munidos de coroa (invenção simultânea da Bovet e da Patek Philippe, em 1839), em substituição da chave de corda, são primeiro encomendas de reis e imperadores, passam a ser objectos de culto de industriais e comerciantes, são chão profícuo para uma aliança que, desde logo, se firma entre duas artes – a Relojoaria e a Joalharia. As caixas dessas máquinas do tempo prestam-se a decorações cuidadas, a serem a paleta de joalheiros.
Um dos mais famosos relógios de bolso de sempre foi feito para uma mulher, a rainha de França, Marie-Antoinette. Um seu cortesão encomendou-o em 1783 ao mais famoso relojoeiro de sempre, Abraham-Louis Breguet. Aliava o máximo da complicação mecânica – calendário perpétuo, cronógrafo, indicação de reserva de corda, etc. – a uma esplendorosa riqueza em ouro, esmalte e pedras preciosas na caixa. O relógio só ficou pronto em 1802, dez anos após a morte da rainha. Depois de várias atribulações desapareceu, num assalto a um museu de Jerusalém, onde se encontrava, em 1983, para nunca mais ser visto, o que ajudou para lhe aumentar a fama.
A Breguet, actualmente detida pelo maior grupo relojoeiro do mundo, o Swatch Group, fez recentemente uma réplica do famoso “Marie-Antoinette”, objecto que é mesmo a personagem principal de um romance, A Grande Complicação, de Allen Kurzweil, publicado em 2003, em Londres.
Quando surgiu o primeiro relógio de pulso? Quem foi o seu “inventor”? E quem o utilizou pela primeira vez? Um homem ou uma mulher? São perguntas que não têm uma resposta fácil, e as mais variadas versões correm sobre tão fascinante assunto.
Há quem diga que foi um homem, o matemático e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), quem iniciou o conceito, ao usar uma fita para atar ao pulso o seu relógio de bolso. Isto para poder, durante as experiências que fazia, medir mais facilmente os tempos. Mas há registos de que, em 1517, a rainha Isabel I, de Inglaterra, recebeu de presente “um relógio para usar no pulso, e que batia horas”.
Ao certo, sabe-se que em 1810, a rainha de Nápoles, Caroline Murat, irmã do imperador Napoleão I, recebe aquele que é comprovadamente o primeiro relógio de pulso, de novo um Breguet, embora ainda se veja que é uma adaptação de um relógio de bolso, ou mais propriamente, de uma “pendulette”, o relógio que as senhoras colocavam ao peito. Mais uma vez, a Swatch foi aos arquivos e produziu no ano passado a réplica do Rainha de Nápoles, um relógio que surpreende pelas suas linhas sóbrias e modernas, sem deixar de ser, como qualquer relógio feminino até então, acima de tudo, uma jóia, um adereço.
A Patek Philippe reivindica a primazia quanto ao primeiro relógio de pulso feito com uma forma de raiz e não adaptado dos de bolso. Tratava-se de um modelo masculino, que apareceu em 1868.
Estava-se à beira do século XX, mas mantinha-se a ordem iniciada com a introdução do relógio pessoal no quotidiano. Essa ordem social, vinda desde o século XVI, estava “ancorada na racionalidade e na divisão do tempo da produção (do homem) e o da reprodução (da mulher)”, como explicam as académicas brasileiras Deis Siqueira e Lourdes Bandeira num ensaio publicado em 2003 – “A construção feminina do tempo”.
Com este novo sentido de tempo, que substituiu o da ruralidade, “configuram-se novos espaços: o da produção, construído como domínio do homem e o da reprodução, marcado como domínio das mulheres”, explicam as especialistas. “Aos homens cabia a auto-afirmação da razão científica aliada à dominação, que revela a ‘civilização’. Às mulheres, os desejos e as paixões, as fragilidades, o domínio da irracionalidade.
O tempo da racionalidade é identificado com os homens, e o tempo menor, dos afazeres, dos afectos, dos cuidados, como tempo das mulheres. A representação social hegemónica do tempo é exterior – o da fábrica, da rua, o tempo masculino, enquanto o tempo feminino interioriza o tempo da casa, dos filhos, dos cuidados, dos afectos”, defendem.
Nesse sentido, uma das explicações dadas para o aparecimento mais generalizado dos primeiros relógios de pulso, no século XIX, tenha sido entre as mulheres e, principalmente, entre as mães que amamentariam. “Como solução para a curiosidade dos bebés que tinham ao colo, e que queriam mexer constantemente nas suas ‘pendulettes’, elas passaram a usar o relógio preso por uma fita, no pulso”, diz Caroline Childers, na sua obra Designers of Time, de 1999. De qualquer modo, as enfermeiras, por motivos de higiene, nunca deixariam de usar “pendulettes” na sua actividade profissional.
Na transição dos séculos XIX para o XX, o relógio de pulso era uma coisa decididamente feminina, vista mais como uma peça decorativa do que como um instrumento para ver as horas. Alguns homens mais “atrevidos” ousavam experimentar o novo adereço, que a Rolex, fundada em 1905, queria impor na versão masculina. Mas, até aos anos 30 do século passado, ainda havia muito homem que proclamava a sua masculinidade ostentando um pesado relógio de bolso, proclamando que “vestiria antes uma saia do que passaria a usar essa modernice atada ao pulso”.
A Cartier produzia em 1888 o seu primeiro modelo de relógio de pulso feminino, com diamantes e bracelete em ouro, mas a maior parte das pessoas está ainda hoje convencida de que o primeiro relógio de pulso do famoso joalheiro parisiense foi feito por encomenda do brasileiro Alberto Santos-Dumont, em 1904. Amigo de Louis Cartier, cosmopolita e dandy, Santos-Dumont falou-lhe da dificuldade em ler o tempo no relógio de bolso, quando pilotava o seu avião. Daqui surgiu, primeiramente, um modelo único, desenhado por Cartier expressamente para o amigo e, depois, a linha Santos, que ainda hoje permanece como um dos valores seguros da casa da Place Vendôme.
Já antes, a Omega tinha, em 1902, produzido um relógio de pulso adaptado no seu formato a partir de um relógio de bolso (a alheta de protecção da corda ganhou uma “irmã” no lado oposto da caixa, passando uma fita pelas duas e chegando-se assim à pulseira. Ainda hoje, a Bovet tem como “assinatura” relógios de pulso que têm a coroa, não às 03h00, mas às 12h00, como no início da metamorfose).
Um relógio de bolso continuava a ser sinal de estatuto social, ao alcance de poucos, pois o seu preço representava anos de salário de um operário. Sabe-se que, esporadicamente, os oficiais, em combate, atavam os seus relógios de bolso ao pulso, com cordas e atacadores, para puderem estar a consultar em permanência as horas, indicação crucial para a sincronia de operações distantes entre si. Mas era ainda o tempo dos “oficiais e cavalheiros”, que usavam os seus próprios relógios em teatro de guerra.
Sabe-se que a Girard-Perregaux equipou por volta de 1880 a Marinha Imperial Alemã com relógios de bolso adaptáveis ao pulso, quando em combate. Uma coisa é certa – foi mesmo a guerra, bem masculina, que provocou o uso maciço de relógios de pulso. No conflito anglo-boer (1899-1902), os oficiais britânicos destacados para a defesa da colónia da África do Sul tinham uma superioridade técnica em relação ao adversário – relógios mais fiáveis e exactos, que usavam no pulso, a forma mais prática de coordenar e sincronizar acções sem ter que tirar repetidamente do bolso uma “cebola” que, como o nome indica, tinha que ser aberta nas suas várias camadas antes de mostrar a que horas se estava…
O passo decisivo na massificação do uso do relógio de pulso e no crepúsculo do relógio de bolso é dado com o desembarque das tropas norte-americanas em teatro europeu, durante a I Guerra Mundial (1914-1918). Desta vez, já não eram apenas os oficiais, também os soldados vinham equipados com relógios de pulso, às centenas de milhares, oferecidos pelo Estado, aquando da mobilização, tornados mais baratos por métodos de produção em série que um certo sr. Ford (antigo relojoeiro) tinha aplicado aos automóveis… (um russo exilado, um tal Roskopf, tinha antes proletarizado o relógio de bolso, revolucionando os movimentos, ao poupar em metade das peças. Injustamente, em Portugal, “marca Roskopf” é, ainda hoje, sinónimo de má qualidade).
A partir da entrada da mulher no mercado de trabalho – também por essa altura, e também inicialmente nos Estados Unidos, substituindo nas linhas de produção os homens que tinham partido para a frente de combate – altera-se também a sociologia do tempo. Deis Siqueira e Lourdes Bandeira defendem no estudo citado que, “ganhando” o tempo até agora masculino, da fábrica, da rua, a mulher não se libertou do seu tempo original, privado, do lar, da família.
Vivendo até hoje uma angustiante falta de tempo. “A identidade feminina passou a incorporar o referencial da profissão e as mulheres passaram a actuar, a serem identificadas socialmente e a auto-identificarem-se como profissionais, além de continuarem a ser mães e esposas”, dizem. “A partir daí, o tempo do relógio é curto para desempenhar a multiplicidade de funções e papéis. É curto, sobretudo, pela intensidade do tempo da produção, que tem que se sincronizar com o tempo da reprodução”.
Funções que vinham dos relógios de bolso, como o alarme, o cronógrafo, a indicação de segundo fuso horário, o movimento automático, foram passando para os relógios de pulso, mas é em 1966 que se dá uma revolução semelhante à ocorrida quando Peter Henlein inventou a corda helicoidal – a Girard-Perregaux desenvolve o relógio a pilhas, com cristal de quartzo, depois de algumas experiências de outras marcas com relógios eléctricos.
As várias manufacturas suíças entram na corrida iniciada pela GP, mas é o Japão, com relógios muito baratos, que ganha e, nos anos 70 do século passado, parecia que o mundo da relojoaria iria ser nipónico e que os relógios mecânicos iriam desaparecer de todo.
Os movimentos de quartzo, além de permitirem o abaixamento espectacular dos preços, também davam mais liberdade nas formas, libertando espaço para a criatividade dos designers. É a época dos relógios ultra-finos, dos recordes de miniaturização, dos mostradores e caixas inteiramente em pedras preciosas.
A liberdade de criação e o abaixamento do preço trazidos pelo quartzo ajudaram principalmente o relógio feminino a tornar-se ainda mais num acessório de moda e cada vez menos num instrumento de medição do tempo.
Hoje, grandes grupos da indústria do luxo afinam as suas práticas à escala global com estratégias essencialmente escoradas num nome, numa marca de prestígio. Se essa marca tem raízes joalheiras, passa também a fazer acessórios, marroquinaria, relógios. Se vende há um século material de escrita, aproveita a fidelização de milhões de clientes ao longo de gerações, e passa também a fazer perfumes, relógios.
Se a tradição era apenas relojoeira, de manufactura, com pergaminhos na micro-mecânica, a marca não se pode permitir a ausência no sector do relógio-jóia, avança mesmo com linhas de joalharia. Por outras palavras, todos fazem de tudo, num sector do luxo que cresce bem acima do ritmo da economia mundial e que tem três ou quatro paraísos virgens por explorar – Brasil, Índia, Rússia, China. É preciso montar mais um “tijolo” (bric) na parede do sucesso…, aproveitar a onde revivalista que deu novo fôlego ao relógio mecânico, aquele que tem mais valor acrescentado e se valoriza seguramente com o tempo.
Três grandes universos jogam esta batalha com armas poderosas:
Há o maior grupo de luxo do mundo, o francês LVMH que, além de marcas muito fortes nos vinhos e nos champanhes, detém o maleiro Louis Vuitton ou a casa de moda Christian Dior. Ambas as marcas estão a produzir também relógios, com considerável sucesso, especialmente entre o público feminino.
Mas o grupo detém ainda as manufacturas relojoeiras TAG-Heuer (de linhas mais masculinas e desportivas, embora crescendo nos modelos de senhora) e Zenith (esta última a sofrer uma autêntica revolução, com o seu presidente, Tierry Nataf, a levar a velha e respeitada casa a fazer hoje dos mais interessantes modelos, mecânicos, de relógios para senhora, com linhas e cores ousadas).
Mas o grupo detém ainda as manufacturas relojoeiras TAG-Heuer (de linhas mais masculinas e desportivas, embora crescendo nos modelos de senhora) e Zenith (esta última a sofrer uma autêntica revolução, com o seu presidente, Tierry Nataf, a levar a velha e respeitada casa a fazer hoje dos mais interessantes modelos, mecânicos, de relógios para senhora, com linhas e cores ousadas).
Há depois o maior grupo relojoeiro do mundo, o Grupo Swatch, do suíço-libanês Nikolas Hayek.
Baseado no sucesso do seu conceito Swatch, quando a indústria helvética da relojoaria mecânica estava moribunda, Hayek foi conseguindo, a partir dos anos 80 do século passado, capital para fazer a sua galáxia de marcas, que vão da Breguet à Omega, passando pelas Blancpain, Jaquet Droz, Longines ou Tissot. Todas elas estão a entrar na área da joalharia, com boutiques monomarca em países como o Japão.
Finalmente, o terceiro pilar deste jogo – o maior grupo relojoeiro de luxo, o sul-africano Richemont, cujo dinheiro de investimento provém da indústria tabaqueira. O port-folio deste grupo é impressionante, vai desde o porta-estandarte joalheiro que é a Cartier à manufactura “pura e dura” de relojoaria que continua a ser a Jaeger-LeCoultre, mas passa pela histórica Vacheron Constantin (a mais antiga manufactura relojoeira do mundo, com 251 anos de trabalho ininterrupto) ou pelas alemãs A. Lange & Sohne e Montblanc, pela britânica Dunhill ou pela Van Cleef & Arpels, “dividida” entre Paris e Nova Iorque.
Acrescente-se aquela que é considerada a “rainha” das marcas de relógios-jóia, a Piaget (só faz peças em metais preciosos, com ou sem pedras). Desse universo fazem ainda parte a italiana Panerai ou as suíças IWC e Baume & Mercier. Mais uma vez, os negócios alastram das áreas tradicionais, procurando todas as marcas fazer linhas de jóias, adereços, perfumes.
Acrescente-se aquela que é considerada a “rainha” das marcas de relógios-jóia, a Piaget (só faz peças em metais preciosos, com ou sem pedras). Desse universo fazem ainda parte a italiana Panerai ou as suíças IWC e Baume & Mercier. Mais uma vez, os negócios alastram das áreas tradicionais, procurando todas as marcas fazer linhas de jóias, adereços, perfumes.
Nos independentes, Rolex e Patek Philippe batem-se pelo topo no reconhecimento mundial de Alta Relojoaria, mas muitas das suas peças são relógios-jóias para um público feminino algo mais conservador. Têm como concorrentes relojoeiros tradicionais, como a Audemars Piguet ou a Girard-Perregaux, muito respeitadas pelas suas inovações técnicas e que, nos últimos tempos, se têm voltado também para a mulher e para o relógio-jóia.
Bulgari, Chopard, Corum, Hermès, Harry Winston, Mauboussin, assentes num património histórico impressionante, são casas ligadas à Alta Joalharia ou aos adereços de luxo e que, nos últimos anos, têm concorrido com as manufacturas tradicionais no mercado dos relógios topo de gama.
Frank Muller, F. P. Journe, DeWitt ou Richard Mille são alguns dos nomes novos neste palco que procura dar exclusividade, sonho, reconhecimento. Muitas vezes a pulso, muitas vezes por impulso.
*Publicado na Máxima, no final de 2006
*Publicado na Máxima, no final de 2006
Newsletter da FHH - a arte de navegar na terra, no céu e no mar nas asas da Alta Relojoaria
Acaba de sair a newsletter nº 29 da Fondation de la Haute Horlogerie (FHH), desta vez dedicada a funções colocadas à disposição pelos mestres relojoeiros em peças mecânicas de grande complicação, e que permitem os cálculos de navegação em terra, mar e ar (geralmente achando a maneira de calcular a longitude do lugar, dando a velocidade a que se vai, indicando o Norte, marcando tempos de mergulho, etc.). Pode ser tudo lido ao pormenor, aqui.
Chegado ao mercado
Em primeira mão - Meccaniche Veloci no mercado nacional
Quattro Valvule Podium Nite Lite, caixa em ouro rosa e diamantes, de 48 mm, quatro calibres (PVP aprox: 24.900 €)
Quattro Valvule CCM, caixa em cerâmica e fibra de carbono, de 50 mm, quatro calibres (PVP aprox: 9.800 €)
Quattro Valvule Cafè Racer, caixa em aço, de 48 mm, quatro calibres, limitado a 750 peças (PVP aprox: 3.890 €)
Uma nova marca, a milanesa Meccaniche Veloci está a chegar ao mercado português. É em 2006 que surge o marcante Quattro Valvole, o primeiro modelo, nascido da ideia de construir um relógio a partir do formato do pistão de um motor a quatro tempos.
Construído a partir de materiais usados nas corridas de velocidade de duas e quatro rodas, foram lançados no mercado séries limitadas de 500 exemplares da versão Racer e outros 500 da versão Sportsman, que rapidamente esgotaram.
A linha Quattro Valvole tem continuado a ser declinada, numa filosofia de produto verdadeiramente italiano.
A Meccaniche Veloci é patrocinadora do Campeonato Mundial de Superbike e seu timekeeper oficial.
Quattro Valvule Brown, caixa em titânio revestido a PVD, de 48 mm, calibre automático (PVP aprox: 2.490 €)
Meditações - objecto de normalidade social
O relógio de pulso deixou de ser um símbolo do poder; o detentor de um relógio não pode senão andar à hora. O relógio torna-se símbolo da normalidade social, e já não do poder social.
Jacques Attali, in Histoires du Temps (1982)
Jacques Attali, in Histoires du Temps (1982)
domingo, 27 de setembro de 2009
Chegado ao mercado
Meditações - bomba-relógio
Em 1535, a primeira bomba ao retardador, utilizando um relógio de corda, modifica completamente todos os conceitos estratégicos da época e permite aos burgueses de Anvers romper o cerco de Alexandre de Farnèse, duque de Parma.
Jacques Attali (Argel, 1943), historiador francês
Jacques Attali (Argel, 1943), historiador francês
sábado, 26 de setembro de 2009
Um dos relógios de sol mais precisos do mundo
Timm Delfs é um amigo de longa data de Estação Cronográfica. A viver em Basileia, este jornalistas especializado em Relojoaria colabora para alguns dos principais títulos suíços e alemães, fazendo dele um dos nomes mais respeitados no meio. Além disso, Timm tem um gosto especial pela gnomónica e, numa rua do centro histórico de Basileia, tem uma pequena loja muito peculiar - especializada em relógios de sol.
Na foto de cima, Timm segura um dos relógios de sol mais precisos do mundo, de que agora vamos falar. Na foto de baixo, a loja de Timm, à espera de quem gosta "da hora verdadeiramente verdadeira".
Na foto de cima, Timm segura um dos relógios de sol mais precisos do mundo, de que agora vamos falar. Na foto de baixo, a loja de Timm, à espera de quem gosta "da hora verdadeiramente verdadeira".
As fotos que se seguem dizem respeito à instalação desse tipo de relógio, recentemente, numa cerimónia pública, em Hindelbank, no Cantão de Berna.
Os relógios de sol de Bernhardt estão hoje espalhados por locais públicos, parques, edifícios um pouco por toda a Alemanha e países limítrofes.
Engenheiro de formação, Bernhardt era ainda dotado para a música, cantando no coro da igreja da sua cidade natal, Freudenstadt, na Baviera, sendo durante muitos anos o seu director. Tocava também violino e violoncelo.
O "segredo" do relógio equatorial de que temos estado a falar é o gnómon (ponteiro que projecta a sombra no quadrante). A forma especial do gnómon faz o ajuste automático da Equação do Tempo, permitindo a leitura imediata da hora, sem ter em conta a data, e com precisão abaixo do minuto.
"O dispositivo é feito em alumínio e o Tempo pode ser lido à precisão abaixo do minuto, tendo automaticamente em conta a Equação do Tempo", diz-nos Timm. "O que faz dele um dos mais precisos relógios de sol que conheço".
Quem concebeu este relógio de sol, nos anos 60 do século passado, foi o alemão Martin Bernhardt (1919-2001). A forma do quadrante obedece estrictamente à sua função. "Não há nada que se possa acrescentar ou tirar ao conjunto sem interferir na sua funcionalidade", assegura Timm.
Os relógios de sol de Bernhardt estão hoje espalhados por locais públicos, parques, edifícios um pouco por toda a Alemanha e países limítrofes.
Engenheiro de formação, Bernhardt era ainda dotado para a música, cantando no coro da igreja da sua cidade natal, Freudenstadt, na Baviera, sendo durante muitos anos o seu director. Tocava também violino e violoncelo.
O "segredo" do relógio equatorial de que temos estado a falar é o gnómon (ponteiro que projecta a sombra no quadrante). A forma especial do gnómon faz o ajuste automático da Equação do Tempo, permitindo a leitura imediata da hora, sem ter em conta a data, e com precisão abaixo do minuto.
Há, por exemplo, um exemplar do relógio de sol de precisão de Bernhardt no Deutsches Museum de Munique, com cálculos e construção de W. Schreiner. A Equação do Tempo está incorporada no gnómon, em forma de cabaça, e que está orientado em paralelo com o eixo da Terra.
A Terra não tem um movimento de rotação regular - os dias não têm todos 24 horas precisas ao longo do ano (variam sensivelmente entre menos 14 e mais 16 minutos). A Equação do Tempo serve para saber, num determinado dia, se devemos acrescentar ou diminuir minutos à hora que o relógio de sol está a indicar. Alem disso, é preciso saber se vigora a Hora de Verão (mais uma hora do que a hora solar) ou de Inverno (igual à hora solar).
Se está interessado em saber mais sobre este ou outros relógios de sol, ou em comprar (Timm prefere a última hipótese, claro, mas será sempre bem-vindo na sua simpática loja), pode começar por ir aqui.