sábado, 29 de agosto de 2009

Meditações - os pequenos pagam sempre

Relógio da Aldeia: [...] muitas vezes, cá pelas minhas mossas de ferro, hei notado que de contínuo os baixos pagam os encontros dos altos, que é justiça de canhoto ou esquerda justiça. Opõem-se lá no céu dois planetas, eclipsa-se o sol ou a lua, e nada de tudo aquilo prejudica ao céu. Pagam os campos, as sementeiras e tal vez os homens, as paixões que passam as estrelas no seu firmamento, e os planetas em suas esferas, como se nós os atiçássemos - o que me cheira a sem rezão de duas em carga. Na terra é do mesmo modo; os homens desmancham o mundo, e os relógios tem a culpa.
D. Francisco Manuel de Melo (1608 - 1666), in Relógios Falantes.

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