segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Descoberto relógio de sol agostinho na Escócia


Contribuição de Carlos Torres

Uma nova descoberta na abadia de Inchcolm, na ilha do mesmo nome, ao largo de Edimburgo, Escócia, ajuda agora a decifrar os cânones dos monges Agostinhos que ali viveram desde o séc. XIII.

Trata-se, segundo a BBC, de um relógio de sol, com o quadrante marcando as chamadas horas canónicas, instrumento crucial no dia-a-dia da comunidade, que por ele se regia para regular horas e tipos de orações, tarefas profanas, etc.

Os arqueólogos a trabalharem na ilha de Inchcolm encontraram os restos desse relógio de sol que, acreditam, estaria originalmente colocado numa parede.

Até agora, algum mistério rodeava o método usado para medir o tempo pela ordem fundada em 1243 baseada na Regra e forma de vida determinadas por Santo Agostinho às comunidades que fundou durante a sua vida.

Embora muito disseminados em Inglaterra, os relógios de sol são relativamente escassos na Escócia, garante a British Sundial Society

Os historiadores acreditam que os monges agostinhos viveram de acordo com uma rotina estricta, tornando essencial a todos os membros da comunidade fazer a coisa certa no tempo certo. O quadrante agora achado em Inchcolm, que está partido em dois, foi descoberto pelos especialistas em História da Escócia, Hugh Morrison e em pedras medievais, Mary Markus.

"Enquanto estava a examinar um conjunto de cerca de 50 pedras escavadas e encontradas há muito, mas nunca classificadas, encontrei um fragmento com claras marcações radiais, fazendo-me lembrar os relógios de horas canónicas que já tinha encontrado nas igrejas do Gloucestershire", recorda Morrison. "Num local diferente deparei com uma outra pedra e fiquei perfeitamente maravilhado ao descobrir que ela se encaixava perfeitamente na primeira. Melhor ainda, ela ainda conservava o espigão enferrujado em ferro, o gnómon que primitivamente projectava a sombra no quadrante".
A imagem fornecida pela BBC deve estar invertida, já que as marcações deste relógio de horas canónicas devem estar na parte de baixo, e não em cima.

Morrison tem esperança de conseguir determinar o local original onde o relógio estava, no lado sul da abadia. "O tempo medieval era muito diferente do actual, tão dependente da precisão na medição de horas, minutos e segundos para se apanhar o combóio, ir para o trabalho ou ver os programas de televisão", faz notar Morrison. "As mudanças de estações do ano e as condições climáticas faziam com que os relógios de sol com horas canónicas não pudessem ser sempre usados, mas quando o sol brilhava eles providenciavam um meio relativamente seguro de coordenação das actividades de uma comunidade".

Nas 24 horas do dia civil, são geralmente sete as Horas Canónicas: Matinas - 00h00, Laudes - 03h00, Primas - 06h00, Terça - 09h00, Sexta - 12h00, Nona - 15h00, Vésperas - 18h00 e Completas - 21h00.

Um relógio de sol de Horas Canónicas marcava, claro, apenas das Primas às Vésperas. Quando não havia sol, ou de noite, havia outros meios de calcular o tempo que marcava o ritmo de orações, o deitar, o levantar, o comer, etc.: através de velas marcadas, que iam ardendo; através de monges que ficavam sem dormir, recitando sempre à mesma velocidade o Terço ou qualquer outra oração; através de nocturlábios, instrumentos que conseguiam medir o tempo através do movimento das estrelas.

Os leigos mais ricos tinham, para seu uso pessoal, os chamados Livros de Horas, autênticos guias não apenas para a vida espiritual, mas também para o quotidiano mais singelo: havia hora fasta ou nefasta para cortar o cabelo ou para viajar, para começar a semear ou a ceifar. E, claro, era por ali que se sabiam os tabus alimentares, quando começavam e acabavam.

2 comentários:

  1. .

    Excelente peça (a publicada e a arqueológica).
    Li com imenso agrado. Parabéns!

    Cumps,
    José António Baptista
    Espaço e Memória

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  2. .

    Caros,

    Como perceberam achei esta peça deveras interessante pelo que tomei a liberdade de a 'colar' no blog Espaço e Memória, citando a fonte, é claro.

    Obrigado,
    José António Baptista

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