quinta-feira, 9 de julho de 2009

Iconografia do Tempo

Primeira surpresa: no meio da Baixa Pombalina, racional e laica, uma igreja "entalada" no meio de prédios dedicados à habitação e comércio, passando despercebida. Trata-se da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, dependente da Paróquia de São Nicolau.

Um pouco de história, citando o Patriarcado de Lisboa:

A ermida situava-se no adro da Igreja de São Julião, ao que se calcula, junto ao Chafariz dos Cavalos e ao pé de uma oliveira, donde lhe viria o nome popular, de Nossa Senhora da Oliveira, ou da Oliveirinha. Lisboa começava então a expandir-se para fora das muralhas mouras, buscando nas margens baixas junto ao Tejo as terras necessárias para a sua implantação, ou mesmo conquistando ao rio os espaços necessários.

A ermida foi fundada, segundo a mais aceitável das informações, em 1262 no reinado de D. Afonso III nas terras que tinham sido compradas por um rico mercador oriundo de Guimarães – Pedro Esteves e sua mulher, Clara Geraldes. Trazem de Guimarães a devoção a São Gonçalo, patrono dos confeiteiros e a Santo Elói, patrono dos ourives.

Situada em pleno coração do comércio e do trabalho, como o indica a rua dita dos Mercadores, a ermida foi sempre motivo de particular devoção e afeição do povo, o que levou, os mesários das diversas confrarias nela sediadas, uma vez que ficou arrasada pelo terramoto de 1755, a cuidar da sua rápida reconstrução e a entronizar no seu altar a histórica imagem da Padroeira.

A construção actual está integrada num prédio de rendimento urbano, na Rua de São Julião entre os nºs 140 e 142, e a sua traça deve-se, provavelmente, ao arquitecto Eugénio dos Santos, responsável pelo plano geral de urbanização da Baixa de Lisboa.

A igreja de Nossa Senhora da Oliveira apresenta-se orientada a sul com um portal de gramática simples, emoldurado de cantaria e encimado por um frontão onde figura um ramo de oliveira metálico. No seu interior, azulejos com quadros da vida de Nossa Senhora. Lá em cima, na mansarda, uma mini-torre sineira, que marcou durante século o tempo colectivo dos alfacinhas da zona, quando o ritmo sagrado se impunha ao profano, e que continua ainda hoje a chamar os fiéis ao ofício divino.

Segunda surpresa, a maior: a sala da confraria, no piso superior. Aí, a iconografia é profana, com painéis de azulejos representando quadros de caça e contendo alguma imagética de cariz, arriscamos nós, maçónica.

Não é fácil de visitar, por isso damos aqui testemunho de dois desses painéis, um representando o Sol, o outro a Lua. Afinal, os dois astros que a Humanidade utilizou, desde que começou a racionalizar o Tempo, mercê dos seus ciclos anual e mensal, respectivamente, para a elaboração de Calendários.

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