quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Meditações - o relógio de bolso oxidado do rei D. Carlos

[...] Daí a uns 10 minutos, vi junto de mim o médico dr. Moreira Júnior* que, depois de nós lhe assegurarmos que o pulso de El-Rei há muito não se sentia, o auscultou e me pediu fósforos, que lhe dei, e me fez abrir os olhos de el-rei, diante dos quais passou repetidas vezes a chama do fósforo, e lhe aproximou a mesma chama das extremidades dos dedos da mão direita, que eu segurava, depois do quê declarou que o monarca estava morto.

– E o Príncipe? – perguntei.

– Está morto também.

Em seguida lembrei a Henrique Rollin que era conveniente guardar e que ele arrecadasse os objectos que El-Rei tinha consigo e encontrámos: um relógio oxidado, que estava do meu lado, na algibeira das calças, preso à cinta por uma corrente de ouro, um lenço e um charuto, e nas algibeiras do outro lado achou-se-lhe um saco de coiro, de revólver, vazio, e não me recordo se mais objectos, mas creio que nenhum outro.

Não se viu carteira. [...]

Raul Brandão, in Memórias, citando  uma "carta dum diplomata português", datada de Lisboa, 3 de Fevereiro de 1908, e da autoria de A. A. M., publicada em Liberdade, 1 de Fevereiro de 1919. Descreve os momentos seguintes ao regicídio ocorrido a 1 de Fevereiro de 1908.

1 comentário:


  1. Por seu relógio contado,
    o monarca português
    tinha o destino marcado
    pela sua última vez!

    JCN

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