Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O primeiro milhão


Acabámos de ultrapassar o milhão de páginas consultadas. Depois de termos sido arguentes numa tese de mestrado, fomos há pouco tempo sujeito de uma outra tese de mestrado. Voltamos a transcrever aqui a entrevista que então concedemos para esse trabalho académico, da autoria da jornalista Cláudia Baptista, e que explica um pouco a génese de Estação Cronográfica:

Entrevista a Fernando Correia de Oliveira, responsável pelo blogue Estação Cronográfica, especializado na temática do tempo e da evolução das mentalidades.

É possível estabelecer um paralelo entre o estilo jornalístico «seco» da agência noticiosa e o praticado pelo blogue Estação Cronográfica. Em que medida essa opção contribui para cativar o leitor e é apropriada a esta plataforma mediática?

Quando iniciei o blogue, essa foi uma das primeiras questões que se me colocou – o estilo. Desde logo, não queria que o Estação Cronográfica fosse um espaço de «recados» ou de «desabafos», a regra seria a informação pura, sem grandes adjectivações. Isso sem deixar, claro, de ter reportagens ou features, peças mais extensas, onde a opinião podia ter lugar.

Mas sempre como excepção e não como regra. Acho que a minha Escola de Agência se materializou aqui claramente. Aliás, se houve alguma coisa que trouxe ao sector, há 15 anos, foi um certo profissionalismo jornalístico, muito ausente da imprensa especializada em Relojoaria, não apenas em Portugal como em muitos outros países.

Traçar uma linha entre informação comercial e informação, enriquecer os dados disponibilizados pelas marcas ou pelas agências de comunicação, relacionar produtos e marcas diferentes entre si. Mais uma vez, com o blogue, a Escola de Agência – seca, directa – foi-me útil. Sei que a maioria dos blogues são «diários», com conteúdos muito pessoais. Tentei que o Estação Cronográfica fosse o que o define – «apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente». Talvez um site fosse mais apropriado a este estilo, mas o crescimento do blogue veio provar que a minha abordagem, afinal, também é válida.

Ao contrário de um vespertino de outros tempos ou de um semanário, que são ao seu modo «marcadores de tempo», o blogue não conhece horas do dia nem fusos horários. Que benefícios para a informação prestada e transformação na rotina jornalística?

A Internet tem estas vantagens – imediatismo, globalidade, fluxo constante, espaço ilimitado. Também aqui há uma aproximação ao meio Agências Noticiosas. As informações (posts) não precisam de ser hierarquizados – do mais importante ao menos; arrumados – breves, features, reportagens, informação de produto, património, fait-divers, memória, etc. podem sair a qualquer hora, uns a seguir aos outros. E ficam eternamente na Net, entram nos sistemas de buscas, são lidos uma semana depois, um mês, um ano depois.

Estrategicamente, criei alguns produtos obrigatórios – Meditações (uma vez por dia, logo de manhã, com citações relacionadas com o Tempo); Memorabilia (dia sim dia não, com artefactos relacionados com eventos relojoeiros); Memória (features, aos fins de semana, que já saíram no suporte papel); Pilares do Tempo (relógios públicos, em todo o mundo, mas com fotos tiradas in loco, a um ritmo quase diário); Livro do Dia (obras relacionadas com o Tempo; Design Relojoeiro (com peças modernas); etc. Essa ossatura, que pode ser programável (tenho em memória, pronto a sair automaticamente, dezenas desses posts) dá a vantagem de emprestar ao blogue um ritmo regular. Não há pior coisa do que visitar um blogue e, uma semana depois voltar lá, estando tudo na mesma. A colaboração dos leitores do blogue tem sido muito interessante e vindo a aumentar em relação a muitas destas rúbricas. Dá-se sempre crédito a essas contribuições, assinando-as e, quando possível, remetendo-as para hipertexto. O Estação Cronográfica, aliás, rege-se por uma deontologia muito apertada quanto a fontes – identifica-as sempre e dá-lhes sempre crédito. Quando quero usar determinado material, contacto as fontes e peço-lhes autorização. Na Internet, nem sempre as coisas se passam assim. Em termos de rotina, o blogue tem esses produtos obrigatórios. Que habituam o leitor. A secção Chegados ao Mercado, por exemplo (versando produto e informação sobre ele, quando passa a estar disponível) ganhou peso – a expressão é agora usada por muitos players do sector.

A inexistência de limites de espaço é uma característica do novo paradigma informativo iniciado com a Internet, ao contrário do que acontece no formato tradicional em papel. De que modo o blogue tira partido dessa prerrogativa?

Como já referi, essa é uma das vantagens do meio. Como colaboro com publicações especializadas, em papel, em Portugal, Espanha, Brasil, México e Coreia do Sul, uso muito desse material no blogue. Mas sigo sempre a regra de deixar passar algum tempo, dando a «exclusividade temporária» ao meio papel que me pagou o conteúdo editorial. Não havendo problemas de espaço, uso muitas vezes ilustrações diferentes e mais numerosas do que as usadas no papel. E, em circunstâncias como efemérides, uso material publicado em livro – excertos de obras minhas que podem marcar uma data – aniversário da introdução dos fusos horários em Portugal, por exemplo – sem me preocupar em cortar ou adaptar. Esses artigos mais longos são consultados regularmente, anos depois de terem saído – sei disso pelos dois sistemas de auditoria que uso – o Google Analytics e o Blogger. Há algum perigo em postar artigos dessa densidade na Internet, podem vir a ser usados sem que haja citação da fonte, mas costumo arriscar.

A distribuição de blocos de texto noticioso por «patamares», profusamente enriquecidos por links remetendo para outras fontes (blogues especializados, sites institucionais ou noticiosos, etc.) pode facilitar a deriva da leitura, num convite à navegação sem rumo. Que ferramentas são utilizadas para fidelizar o leitor?

Como se refere, enriqueço muito os posts com hipertexto, acho que isso não dispersa a leitura – quem quer a informação concisa basta-se pelo post, quem quer aprofundar mais, vai aos links – acho que isso demonstra uma certa dose de honestidade intelectual minha, algum investimento, alguma poupança na escrita. A fidelização do leitor faz-se sobretudo por lhe fazer notar que a informação que encontra no Estação Cronográfica ou é em primeira mão, ou é a mais rápida, ou é a mais completa. E, sobretudo, fiável. A pouco e pouco, um público muito diferenciado, que se interessa pelo Tempo, em toda a sua multidisciplinariedade, vai descobrindo o blogue. Fazê-lo voltar regularmente é a chave. A potenciação dos conteúdos do Estação Cronográfica é feita com anúncios dos posts mais importantes no Facebook ou, ainda mais excepcionalmente, no Linkedin. Só uso essas redes sociais, e inteiramente para fins profissionais. As entradas no blogue cresceram exponencialmente com a visibilidade que ele adquiriu nessas plataformas. Mas é preciso ter cuidado e não banalizar – há três a quatro avisos diários, num dia que costuma ter entre 15 a 20 posts.

Podemos considerar que existe um determinismo tecnológico, quando a máquina condiciona a organização e a rotina do jornalista profissional?

A mensagem é o meio? Claro. Mas não adapto o estilo ao blogue. Se a abordagem foi a usada para o meio papel, para um jornal de Economia, é essa que aparece no blogue. Se a abordagem foi mais técnica, num artigo para uma revista especializada, é assim que aparece. Se o post é informação dada em primeira mão no Estação Cronográfica – e isso acontece cada vez mais –, haverá depois adaptação ao formato papel e à publicação específica, mas o contrário não acontece. O Estação Cronográfica é uma espécie de Agência Noticiosa sobre Tempo, Luxo, Sociologia do Luxo, onde as notícias não têm hierarquia e onde todos podem encontrar tudo. Do ponto de vista da minha rotina profissional como Jornalista, o Estação Cronográfica veio assim alterar radicalmente a minha forma de trabalhar – estou sempre a trabalhar, a qualquer hora, em qualquer sítio – e tenho sempre em conta, antes de tudo, a publicação no blogue. Aí se encontra também uma certa Escola de Agência, com a técnica de racionalização e economia de meios, rapidez. Como o blogue é totalmente independente – não tem publicidade – pode haver uma certa contradição entre o tempo gasto com ele e o trabalho (remunerado) que desenvolto em termos de conteúdos editoriais. Mas, sendo Jornalista freelance, há dez anos, o blogue potencia-me a importância no sector, e não apenas à escala nacional, mas internacional – há cada vez mais marcas que mantêm com o Estação Cronográfica uma relação directa, sem passar por intermediários; há cada vez mais marcas que me solicitam para eventos, apenas pela importância do blogue (os clips das agências de comunicação passaram a incluir os blogues, as buscas no Google mostram a importância relativa de cada um, o Estação Cronográfica está cada vez mais bem colocado nesses rankings, isso faz com que ele seja procurado para difusão de informação em primeira mão, é um efeito de bola de neve). O Estação Cronográfica é hoje o meu principal cartão-de-visita em termos mundiais – secundariza-se o facto de manter colaboração com mais de vinte títulos, em várias línguas. Mas tudo isto é um sistema de vasos comunicantes. Digamos que não dou por mal empregue o tempo (muito) que dedico ao blogue.

O ambiente online afecta a estrutura da notícia, dada a inexistência de limites de espaço: a resposta às perguntas elementares do lead (o quê?, quem?, quando?, onde?, como?, e porquê?) surge desconstruída podendo alargar-se os itens como? e porquê?. Até onde vai a influência da tecnologia na organização e rotina do ofício do Jornalista?

Como já disse, não faço adaptações de estilo quando publico no blogue alguma coisa que já publiquei noutro meio. Passa-se essa adaptação quando publico primeiro no blogue e depois repito a informação no papel. O estilo jornalístico, em toda a sua plenitude, está presente no que escrevo – sigo as regras éticas, deontológicas da profissão. Cito fontes, respeito o contraditório, separo a opinião do facto, depuro as adjectivações de marketing (quase sempre imbecis, aliás) quando trabalho press-releases. Acho que isso tem sido o segredo do sucesso do blogue – informação fiável, se possível dada antes dos outros, se possível em exclusivo e em primeira mão, se possível ir mais longe do que o press release, se possível investigar fora da agenda das agências de comunicação. Manter uma leitura atenta das fontes primárias – blogues e sites de instituições científicas e culturais ligadas ao Tempo, de manufacturas, de outros Jornalistas especializados – e fazer recensões, citando sempre a fonte. Esse tem sido também um trabalho inédito no meio, que tem ganho leitores – as instituições, depois de serem citadas uma vez, são elas próprias que passam a enviar a informação directamente para o blogue.

Estação Cronográfica pode ser observado como um exemplo de alternativa mediática, por ser um blogue noticioso profissional sem espaços publicitários. Esta opção liberta-o duplamente, por um lado, da pressão publicitária que cada vez mais é exercida sobre o Jornalista com vista à publicação de notícias com proveito comercial, e, por outro, da estrutura burocratizada das Redacções das empresas de Comunicação Social, que interfere consideravelmente nos conteúdos das publicações. Em que medida esta liberdade consegue ser exercida em pleno?

Até agora, a 100 por cento. Como Jornalista, não é apenas no blogue que me preocupo em separar as águas. Nos cerca de 20 títulos em papel em que colaboro, não tenho qualquer interferência no aspecto publicitário, quando se sabe qual é a lamentável realidade quando falamos de imprensa especializada – não apenas em Portugal… Os meus conteúdos são puramente editoriais, as capas dos títulos em que colaboro são opções editoriais, o espaço e a cobertura da informação são da minha inteira responsabilidade, nada tendo a ver com o facto de haver ou não investimento publicitário. Isso tem-me dado uma equidistância em relação aos players do sector, a nível nacional e internacional. Será, aliás, a minha principal mais-valia. O blogue apenas veio reforçar essa imagem de independência. Claro que sou solicitado – mais pelas agências de comunicação do que pelos seus clientes – a dar determinadas coisas, a dar-lhes determinado espaço, relevância de primeira página. Mas, com o tempo, uns e outros foram-se apercebendo de que, em caso de pressão, as coisas até costumam funcionar ao contrário… E o blogue é um grande espaço de liberdade, da minha liberdade.

O conceito de globalização está associado à Internet como ambiente com possibilidades quase «infinitas» de atingir um público com certeza vasto, mas dificilmente mensurável. A barreira da língua, todavia, torna a globalização uma «ideia questionável». Estação Cronográfica contraria esse carácter redutor do Português, publicando noutras línguas. Que expectativas em relação à recepção no universo de falantes de Português?

O universo da língua portuguesa não é tão despiciendo como isso. E, por outro lado, inclui dois espaços com grandes potencialidades no âmbito do luxo – Brasil e Angola. Por um lado, como já disse, o Estação Cronográfica ganhou um peso específico a nível internacional, junto da indústria relojoeira no seu todo, junto da comunidade de fazedores de opinião nesse sector porque, mesmo não percebendo português, as marcas, as agências, os meus colegas apercebem-se do âmbito, da exclusividade, da rapidez – basta verem as fotos que ilustram os posts. O meu benchmark são dois blogues norte-americanos, dois sites suíços e um site francês. Cito-os com regularidade e eles citam-me. Sentimo-nos fazendo parte de uma comunidade muito restrita. As autoridades do sector relojoeiro mundial elegem-nos para determinados eventos institucionais, muito restritos, onde estão muito poucos Jornalistas. Acho que isso se deve à importância do Estação Cronográfica, não tanto ao que escrevo em papel. Depois, como chego aos falantes de língua portuguesa, isso ganha ainda maior dimensão. Recentemente, passei a ser contactado directamente por agências de comunicação e por representantes de marcas que actuam apenas no mercado brasileiro, e que querem que a sua informação apareça no blogue.

O autor do blogue tem acesso à informação veiculada online em todas as línguas que domina. Coloca-se a questão da filtragem da informação. Que critérios para dosear o excesso de informação, a chamada «infoxicação»?

Procuro, como referi, preencher uma lacuna em língua portuguesa – fazer um digest de informação para quem está interessado nas temáticas do Tempo e do Luxo – para isso tenho uma rede de contactos, leituras diárias obrigatórias, etc. Para combater a «infoxicação», nada melhor do que fazer uma leitura diária do Estação Cronográfica.

Procuro que esteja lá tudo o que é mais importante – que ali dei ou que li em determinado sítio. O objectivo é criar ao leitor do Estação Cronográfica uma sensação de conforto – a de não ter perdido nada de importante. No início, fazia uma espécie de newsletter semanal, que enviava para uma rede de contactos – à sexta-feira fazia um tratamento noticioso, e em texto corrido, do que o blogue tinha dado de mais importante nessa semana. Isso foi importante para fidelizar leitores nos primeiros meses, mas depois achei desnecessário e demasiado. Banalizar os alertas mata os alertas. Um mail do Estação Cronográfica deve ser a excepção e tratar de algo verdadeiramente muito importante.

O apelo à interactividade e à participação / contribuição do público é incrementado nas versões online dos Meios de Comunicação Social e uma característica da blogosfera. O retorno por parte do leitor do Estação Cronográfica permite concluir que estamos perante uma plataforma que incentiva ao exercício da cidadania?

O Estação Cronográfica preocupa-se, desde a sua génese, com a Cultura, o Património, faz campanha pela defesa de peças, procura a pedagogia. Liderámos já processos de restauro em três casos de relojoaria grossa, fazemos palestras nas mais diversas instituições falando da necessidade de proteger esse património, falamos regularmente disso no Estação Cronográfica – que trabalha em rede com lóbis instituídos como o Observatório dos Relógios Históricos de Lisboa ou com o Cidadania LX. Os leitores são incentivados a localizar e / ou a denunciar casos de abandono, incúria. E têm respondido (pouco, convenhamos) a esses apelos.

Se o público interage e participa da construção da notícia com contributos, gozando de um acesso à publicação de que antes não dispunha, podemos continuar a chamar-lhe leitor, ou deveríamos passar a designá-lo colaborador? Todo o leitor está identificado ou parte é anónimo?

Os leitores do blogue são cada vez mais colaboradores. Sempre que há uma dica de um leitor, o post que daí resulta traz sempre a sua identificação e um agradecimento. Há um núcleo duro de colaboradores, desde os que contribuem com fotos para a secção Pilares do Tempo (relógios públicos em todo o mundo) aos que fazem versos para as Meditações. Essa participação tem aumentado, com alguns leitores a fazerem mesmo investigações em fontes primárias, que depois nos disponibilizam de forma generosa. Esse é um dos aspectos mais gratificantes do blogue. Não aceito nem contribuições nem comentários anónimos.

O blogue responde à tendência actual de segmentação de públicos dirigindo-se “cirurgicamente” a uma faixa de população interessada na temática do tempo. Como foi construído o universo de público-alvo?

Não houve, confesso, qualquer preocupação em criar um público-alvo. Criei o conceito do blogue ao fim de um mês de estudo, mas apenas para saber o que eu queria dele e não o que os potenciais leitores poderiam procurar. Lancei o Estação Cronográfica em pleno Verão, não lhe dei um nome que facilitasse a busca na Internet (não há Relógio ou Relojoeiro, ou Tempo), não fiz qualquer lançamento apoiado noutro meio. As coisas foram acontecendo naturalmente. A principal razão para ter avançado com o blogue foi o facto de, em 2009, e devido já à crise, não ter assegurado qualquer tipo de mecenato para as obras de investigação que costumo produzir anualmente. Tinha, assim, tempo. Depois, e porque me ia chegando cada vez mais informação, que não publicava no suporte papel, pensei em «desentupi» o sistema, criando o blogue. Abriu-se uma Caixa de Pandora e, hoje, é o blogue que determina os meus dias, não sou eu quem determina os dias do blogue… E os meus públicos são cada vez mais vastos e inesperados.

Que sistemas utiliza o Estação Cronográfica para quantificar o público que consulta o blogue? Que fiabilidade por comparação com os medidores de audiências dos Meios de Comunicação Social?

Como referi, uso duas ferramentas de audimetria – o Google Analytics e as Estatísticas do Blogger. Ambas são fiáveis, independentes, e muito pormenorizadas. E não mentem, coisa que não se passa, infelizmente, no papel e nos seus números de tiragem, que são muitas vezes fantasiosos. Funcionam em tempo real, a qualquer hora, e em qualquer lado. Tenho usado essas ferramentas para ir afinando conteúdos. Por exemplo – há uma quebra de cerca de 30 por cento na consulta do blogue aos fins-de-semana. Há dois meses comecei a tentar contrariar isso colocando nesses períodos peças mais longas, que tratam de Cultura, de Património. A correcção do desvio tem sido notória.

Para se ser Jornalista num determinado meio de comunicação não é necessário «estar» nas instalações desse meio. A profissão tem características que se enquadram muito bem no regime de teletrabalho. No entanto, a facilidade de comunicação e de encontro com as fontes através da rede Internet convida a um Jornalismo «sentado», mais passivo, menos interveniente, uma espécie de relato em «segunda mão» de uma realidade que é, assim, duplamente intermediada. Comentário?

No meu caso, até se passou tudo ao contrário. Fazia um jornalismo muito mais «sentado» antes de ter o blogue. Com a importância que o Estação Cronográfica atingiu, sou cada vez mais solicitado a estar presente em eventos, em Portugal e no estrangeiro. Devido ao blogue, passei a estar incluído num círculo restrito de uns vinte Jornalistas, à escala mundial, solicitados a estar presentes nos mais importantes eventos do sector da Relojoaria. O conteúdo do blogue reflecte isso, com cada vez mais reportagens. Por outro lado, essa cobertura em directo dos acontecimentos tem-me dado acesso a fontes que, de outro modo, me estariam vedadas ou seriam muito difíceis de contactar. Falo de CEOs dos grandes grupos económicos do Luxo, dos líderes das grandes manufacturas relojoeiras, dos players mundiais – eles fazem hoje parte da minha rede de contactos no Linkedin e isso só é possível depois de ter havido contactos directos. Por outro lado, mantendo as colaborações que mantenho, contacto hoje em dia com regularidade cerca de dez redacções em Portugal e outras tantas no estrangeiro, o que me dá vantagens de «geometria variável» muitos úteis.

Não basta saber escrever para informar, é preciso dominar uma série de técnicas relacionadas com a digitalização, apesar de as ferramentas de software de blogues disponíveis, do género amigas do utilizador (users friendly), permitirem a manipulação fácil com reduzidos conhecimentos técnicos, resultando num modelo económico de publicação com expectativas de larga audiência. Como vê o Estação Cronográfica a execução destas tarefas?

Estranhamente, cada vez melhor. Os meios à minha disposição são cada vez mais «amigos». Mas reconheço que deveria investir algum tempo em conhecimento de software e outras ferramentas, para poder potenciar ainda mais o blogue e as redes sociais onde ele e eu estamos presentes. No que respeita ao uso do meio, sou muito pragmático – faço o que sei, procuro não perder tempo em complicar. Não uso, por exemplo, filmes no blogue. Acho que a tecnologia não é ainda suficientemente rápida. Quando muito, remeto para links onde os filmes se podem ver. Do ponto de vista de titulação e «paginação» do blogue, os «truques» usados dizem muito respeito aos 40 anos de Jornalismo. A tarimba, mesmo na Internet, acho que se nota… Iniciei há exactamente dez anos a actividade como freelance, «empurrado» por mais uma crise no Público. Sem a Internet, sem as redes sociais, penso que não teria sobrevivido. Acho que me adaptei razoavelmente, atendendo à idade…

A plataforma online traz a possibilidade inédita de oferecer um arquivo online, centralizando conhecimentos e informação de acesso fácil e rápido. Essa alteração reforça e promove a proximidade do blogue com o seu público?

Sim, muito. Como disse, e consultando as notícias mais vistas ao longo do dia, da semana ou do mês, através dos softwares de audimetria online, cada vez mais se percebe que posts colocados há muito tempo – de repente – se tornaram populares, tiveram um pico de consulta, por razões «misteriosas». O melhor teste para se saber da importância que temos na blogoesfera é fazer buscas com palavras-chave no Google ou outros motores. Se estamos regularmente entre os cinco primeiros links indicados – no nosso respectivo sector, e aqui, o Tempo e a Relojoaria – é porque estamos no bom caminho. E, se continuarmos a alimentar o caudal, daqui a um ano só poderemos estar melhor… mesmo que essa primazia seja fruto de posts colocados há muito tempo. Numa palavra – fascinante!

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