domingo, 15 de dezembro de 2019

Meditações - trovoada de Dezembro

VAE VICTORIBUS!

A Maria Lucila

Em Dezembro, às seis é noite cerrada. Mais bocado, menos bocado, a essa hora recolhia do monte o José Gaio, sozinho, sachola ao ombro, um pouco atarantado com a trovoada que rugia ao longe, em surdina. Por cima dele, o céu ia-se fazendo cada vez mais negro, dessa negrura espessa de tempestade que infunde pavor à gente, e da qual os próprios pássaros têm medo. Cessara de chover. Mas o vento do sul principiava agora, agitando os grandes ramos despidos dos castanheiros, fazendoos murmurar não sei que estranha elegia... A um relâmpago mais vivo, o José Gaio apressou o passo, e, benzendo-se, rezou a Magnificat. O trovão chegou depois, lúgubre, cavernoso, alastrando-se em roldões na larga amplitude do céu. Debaixo dos pés, o José Gaio sentia o caminho lamacento, encharcado das enxurradas valentes de todo o dia.

Trindade Coelho, Os Meus Amores

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