VAE VICTORIBUS!
A Maria Lucila
Em Dezembro, às seis é noite cerrada. Mais
bocado, menos bocado, a essa hora recolhia do
monte o José Gaio, sozinho, sachola ao ombro, um
pouco atarantado com a trovoada que rugia ao
longe, em surdina. Por cima dele, o céu ia-se
fazendo cada vez mais negro, dessa negrura espessa
de tempestade que infunde pavor à gente, e da qual
os próprios pássaros têm medo. Cessara de chover.
Mas o vento do sul principiava agora, agitando os
grandes ramos despidos dos castanheiros, fazendoos murmurar não sei que estranha elegia... A um
relâmpago mais vivo, o José Gaio apressou o passo,
e, benzendo-se, rezou a Magnificat. O trovão
chegou depois, lúgubre, cavernoso, alastrando-se
em roldões na larga amplitude do céu. Debaixo dos
pés, o José Gaio sentia o caminho lamacento,
encharcado das enxurradas valentes de todo o dia.
Trindade Coelho, Os Meus Amores
Sem comentários:
Enviar um comentário