Fernando Fraga da Silva (1946 - 2015) - O discreto que marcou

Os Três Mosqueteiros eram quatro... e o Bando dos Quatro eram cinco. Como nós, Fraga, como nós... O chamado Grupo de Marinhais, cimentado por 4 décadas de convívio e amizade, de um percurso feito maioritariamente nas agências noticiosas.

A notícia da tua morte já era esperada. Estivémos há dias contigo, apenas para nos despedirmos, mas julgo que não nos terás já sequer reconhecido.

Guardo de ti o quê? Desde logo a gargalhada seca e em crescendo, sarcástica. Arma de arremesso do teu humor ultra-fino. E o teu disparar fraseado, com pressa tal que algumas palavras não chegavam a sair, na rapidez do pensamento.

Quantas vezes rematavas com o teu "Não é nada disso!" uma discussão onde tinhas sempre mais elementos, mais precisão de nome, de data, de circunstância?

Desde os tempos na ANOP, depois na NP e na LUSA, eras o interface da Redacção com a Direcção Técnica - o teu gosto pelos computadores, a generalizada iliteracia informática dos teus camaradas...

Quantas vezes me socorri de ti, aquando da compra de um computador, de um telemóvel, de uma máquina fotográfica? Estavas sempre actualizado sobre os avanços tecnológicos, eras o nosso "guru" informático.

Mas, apesar disso, nunca aderiste ao Facebook nem estavas presente nas redes sociais.

O teu perene gosto pela fotografia levou-te a coleccionar máquinas. Especializaste-te nas Reflex. E tinhas praticamente pronto o projecto de editar em livro essa história sobre o primeiro meio século da geração Reflex.

Caro Fraga: isto da informática tem destas coisas - quando escrevo um email para este, para quele e ainda aqueloutro, o Gmail sugere-me nomes... o teu, obviamente, vai sendo sugerido, cada vez que escrevo no universo do chamado Grupo de Marinhais. Nos últimos meses, tive que ter muita atenção, para não enviar emails comentando o teu estado de saúde... para ti.

Sabíamos, todos, que o desfecho estava próximo. O João, o Luís, o João Pedro e eu. Foste um amigo de quatro décadas. O discreto que marcou. Estarás na nossa memória. No próximo almoço, ergueremos um copo por ti. Até sempre, camarada!