Encostada de leve à clara espalda
Da sua alta cadeira armoriada,
No salão, que, em nubente madrugada,
Watteau de Pastoraes todo engrinalda.
A marquesa sorru, sob a grinalda
Que lhe cinge a cabeça polvilhada,
E num pequeno mostrador de jada
Fita os olhos de límpida esmeralda.
Trila enfim o relógio multicor.
E ao dispersar das vibrações sonoras
Ouve-se perto uma canção de amor.
E ela vê tudo entre imortais auroras...
Só não vê, no impassível mostrador,
A Morte, imóvel, a contar as horas.
Daniela, in A Semana de Lisboa, suplemento do Jornal do Comércio, 1893
ResponderEliminarPara a morte baralhar
nas contas a meu respeito
resolvi para esse efeito
meu relógio avariar!
JCN
ResponderEliminarEscada armadilhada
Para fazer a morte tropeçar
quando por mim vier, montei na escada
uma armadilha bem dissimulada
por forma a não poder desconfiar.
Longe de pretendê-la magoar,
a minha ideia, apenas e mais nada,
consiste em retardar sua chegada,
obrigando-a a subir mais devagar.
Quero ter tempo para a Deus pedir
perdão para os pecados cometidos
e cuja culpa… tenho de assumir.
Quero, além disso, dar um jeito à casa,
os meus papéis deixando encaixotados
enquanto, surpreendida, ela se atrasa!
João de Castro Nunes
Altero o 1º terceto para:
ResponderEliminarQuero ter tempo para a Deus pedir
perdão para os meus erros e pecados
que sem desculpa tenho de assumir.
JCN